O RAIO PODERÁ SE REPETIR
Segundo um antiguíssimo adágio popular, “o raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Nunca me preocupei em saber se há pelo menos uma ponta de veracidade possível de estar inserida nesta afirmativa. Por outro lado, também tão antigo, quem sabe, como o primeiro, é “voz do povo, voz de Deus”, que parece mais suscetível de crédito. Por isso, fico pensando que, crer nesta segunda afirmativa dá uma certeza de não ocorrer o contrário da primeira, ou seja, o raio cair novamente no mesmo lugar. Mas afinal, por que me dou a esta comparação? Bem... principalmente para quem gosta, vamos ao caso do futebol.
No ano cinquenta do século passado, o Maracanã, na época o maior estádio de futebol do mundo, construído para os principais jogos do evento mundial, foi palco de melancólico final, para nós, brasileiros. Com sua lotação máxima, dezenas de milhares de apaixonados pela nossa seleção, formada de estrelas de primeiríssima grandeza, viu desfilar na passarela do gramado sua grande desilusão. Ao contrário do esperado, ao invés de festejarmos a conquista da taça Jules Rimet, a Copa do Mundo, tivemos sim, que administrar e neutralizar os tremores dos estilhaços sentimentais, produzidos pelo raio causado por um resultado desfavorável de 2 x 1.
A tristeza que calou aquela multidão, produziu a nascente de um rio de energias sombrias, que se espalhou pelo nosso País inteiro. Chegou até minha Cidade do Rio Grande – bem ao sul do Rio Grande do Sul. As caras tristes e chorosas estavam por toda parte. Na Fruteira “Ao Maneco” que se localizava na rua Marechal Deodoro esquina com a rua João Manoel, no bairro Cidade Nova, vi os frequentadores deixarem suas lágrimas misturarem-se com a cerveja, em muitos copos quase cheios deixados de lado, pois a tensão de cada um, ao ouvir o jogo, sendo transmitido pela rádio nacional do Rio de Janeiro,(não havia televisão) aumentava à medida que a disputa chegava a seus minutos finais.
O famoso “palpite” que o Maneco fazia em uma folha de papel almaço, estava cheia de apostas até com disparates em favor da nossa seleção. Somente um, “Uruguai 2 x Brasil 1”, o único em contrário, veio a se tornar fatídico. Juca, o ceboleiro, (realmente, vendia cebola em restas de porta em porta) quando na véspera do jogo assinou sua aposta, foi totalmente criticado, desdenhado, até mesmo xingado, porém, disse ele: Vou colocar 3 x 1 para o Brasil, mas, como sonhei que o campeão do mundo estava jogando de azul, vai também um de 2 x 1 para o Uruguai.
Nossa seleção jogou de camisa canarinho e o raio de fato caiu do lado amarelo.
Depois da copa de 1950, o Uruguai nas poucas que esteve, não conseguiu uma participação significativa. Porém, recentemente, nota-se uma ascensão do futebol da banda oriental. A Celeste Olímpica, como naquele ano 50, com um time muito modesto (segundo a midia) deu um calor nos adversários na última copa e chegou às semifinais. Este pode ter sido o marco inicial de minhas várias preocupações. A seguir, com o Penãrol, os uruguaios chegaram à vice da Copa Libertadores de América, dando um belo susto no bom time do Santos F. C. Acrescente-se o recente revés no Beira-Rio. Para quem se lembra, foi semelhante à copa de 50, uma multidão calada, chorosa, magoada com um igual raio de 2 x 1, pois assim perdeu o Brasil (S.C.Internacional) para o Uruguai (Penãrol). Poucos dias atrás, nossa seleção sub-17 tomou 3 x 0 dos meninos uruguaios na Copa do Mundo da categoria. Na atual Copa América em andamento, dói comparar o desempenho medíocre da nossa seleção com o da uruguaia, muito melhor.
Para completar estas conjecturas, como os paulistas não terão a condição de construir um novo estádio antes da Copa de 2014, a final será novamente no Maracanã. Tomara que, nossa seleção se muna de para-raio de primeira qualidade, qual seja, de estrelas sem brilho falso, que realmente joguem um futebol de verdade, pois o local volta a ser o mesmo e o mau tempo, que já é ameaçador, pode aprontar, mesmo debaixo do belo céu azul do Rio de Janeiro, outro raio: 2 x 1.