Os infiéis

Eu a conheço a um bom tempo, pensei saber muito, não, ela vai além de todo o conhecimento.

Soube que dessa vez é um professor, mais velho, sei também que é um homem casado, desencantado, infeliz, ela e o professor vivem em uma relação errada onde é preciso fugir, esconder-se, onde um futuro é improvável, portanto vivem o agora, o ‘momento’, não posso saber com qual intensidade, mas posso imaginar, imagino também que tenha mais importância pra ele que pra ela, pra ela não, é só uma descoberta, está deslumbrada com essa espécie de “amor” antes vista apenas em livros e que hoje ela vive, mesmo que ela não saiba, só passa disso, um deslumbramento. Um dia ela vai se cansar desse ciclo vicioso e virará as costas pra tudo, e então esse homem, esse professor, não terá mais a jovem para usar como refúgio de sua vida medíocre, e continuará preso a seu casamento infeliz, em sua falsa realidade.

Não vou mentir, me reconheço nesse homem, não sei ao exato em que, deve ser a infelicidade e a forma como ela o atinge, como se fosse uma regra da qual não se pode escapar, vejo essa infelicidade em muitos homens, em todos que conheço, em alguns ela vem de forma diferente, deve ser por isso que muitos bebem, já tenho reservado um lugar para ela, só espero que chegue, e que venha de forma bruta, fatal, pra que assim me arrebate de forma rápida.

Sei também que na primeira tentativa de aproximação com a menina ele chorou, nos braços dela, como uma criança perdida, ela ainda guarda a imagem caótica do homem barbado chorando em seu colo, chorou por culpa, nunca havia traído a esposa, mas não foi só por isso, a meu ver talvez ele realmente goste dela, talvez sua mulher não o toque como ela, não o beija como ela, não lhe diz o que ela diz, ou talvez ele tenha sentido aquele sopro gelado no coração que o ensopa e o deixa em pedaços, enquanto sua virilidade se desmancha diante daquele corpo imberbe que o desposa, isso durante o toque, em uma espécie de conexão entre almas, ela tem a selvageria infantil dos romances, ela cumpre o dever de preencher o que lhe falta, a felicidade, mesmo que essa seja momentânea, passageira, ele vai guardar isso, e aproveitar ao máximo que puder. Sei também que há outro, mas esse é jovem, menos importante, com esse ela só se diverte ouvindo seus elogios e juras, por mais bobas que essas sejam, mas eu sei também que nesse triangulo ela é a mais confusa, sei que ela está a mercê da loucura, sei que ela desmorona quando o telefone não toca, sei que ela faz isso por carência, pra tentar se divertir, mas se sente mal a cada vez que todos se encontram e se cumprimentam nos corredores da escola, sei que ela está em desespero, sei que ela vai culpar Hilda Hilst e Marguerite Duras, mas sei também que eu não sei nada, não vou saber, como já foi dito, todos eles vão além de todo o conhecimento.

WsCaldas
Enviado por WsCaldas em 17/07/2011
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