CAIÇARA
Como já disse anteriormente, sou caiçara, do Rio de Janeiro. Nascí no mar e no mar me criei.
Nele mergulhei incontáveis vezes atrás de sirís azulões, que os meninos pegavam nas locas do fundo, usando apenas as mãos envoltas nos próprios calções de banho, sirís esses que, não raro, eram cozidos ali mesmo na praia, na água do próprio mar, que já leva o sal na medida certa!
Quase capitão-de-areia, tão bem descrito pelo magistral Jorge Amado, deixava minha pobre mãe completamente aturdida com as minhas contumazes ausências e, tantas foram, que acabou sendo obrigada a admití-las como uma cruz que, mesmo sem merecer, teria que carregar.
Então, gosto do mar desde pequenino, aprendi a nadar sozinho, engolindo muita água e escapando de afogamento por obra e graça de Iemanjá (saravá), que olhava com bons olhos aquele garoto magricela, mas invocado, que ousava invadir-lhe o domínio e "ainda por cima pelado!"
A sirizada, preparada numa lata de banha de 20 quilos, tinha sempre o acompanhamento de suculentos mexilhões arrancados também do fundo, pois eram bem maiores e do eventual produto da pesca de caniço. Enfim, uma autêntica caldeirada, sem maneirismos ou cerimônias, porque era servida naquela velha lata mesmo.
Tenho pelo mar uma irresistível atração, preciso do encanto do seu cheiro, do marulho das ondas, da espuma, do sal, da sempre cambiante cor, mas tenho-lhe , também, respeito como o que se deve a um pai; temo-o quando se enfurece, escurece, espuma e brame e arremete sobre as rochas. Sei que ele terá alguma razão para tanta ira. Possivelmente estará sinalizando aos homens que não está nada satisfeito com a forma como o estão tratando, como o estão poluindo, envenenando, enchendo-o de lixo, contaminando-o com metais pesados, com resíduos industriais de toda a espécie, com óleo, petróleo e, agora, com a escória das usinas nucleares!
Esse maravilhoso mar, poeticamente cantado por Caymmi, exaltado por Jorge Amado, berço de toda a vida do planeta, inesgotável fonte de alimentos, que são entregues aos homens sem nenhum custo, começa a sentir o mau trato que vem sofrendo há séculos, como sempre alertou seu maior defensor, o bravo e inesquecível Jacques Cousteau.
Na ânsia do hoje, do agora, do imediatismo, da fingida ignorância da gravidade da situação, o homem continua destruindo o mar e a terra, desmatando, queimando, desertificando grandes áreas, extinguindo espécies da fauna e da flora, colhendo todos os ovos de tartarugas postos nas praias, olvidando o defeso, enfim, agindo como carrasco de si mesmo.
Sinto que alguma coisa terá que acontecer em breve, que a providência divina abra os olhos dos homens, que os faça ver quão grave é o momento e que nos encontramos numa encruzilhada. Se decidirmos seguir pela trilha errada, vamos, seguramente, encontrar um precipício e já não haverá mais tempo para evitar a queda.
Quero, exijo, de volta o meu mar, de águas verdes cristalinas, de areia imaculada, de pululante vida marinha, da graça dos golfinhos brincalhões, das mansas arraias, das pesadas baleias, dos densos cardumes de sardinhas, do humilde carapicu...
Ao reconquistar terrenos invadidos pelo homem, o mar deixa bem claro que não vai abrir mão do que lhe pertence, do que é seu desde a criação do mundo.
Saibam eles que a mensagem já está sendo dada e que Netuno brande um tridente que possui enorme poder e sabe muito bem como usá-lo!
Como já disse anteriormente, sou caiçara, do Rio de Janeiro. Nascí no mar e no mar me criei.
Nele mergulhei incontáveis vezes atrás de sirís azulões, que os meninos pegavam nas locas do fundo, usando apenas as mãos envoltas nos próprios calções de banho, sirís esses que, não raro, eram cozidos ali mesmo na praia, na água do próprio mar, que já leva o sal na medida certa!
Quase capitão-de-areia, tão bem descrito pelo magistral Jorge Amado, deixava minha pobre mãe completamente aturdida com as minhas contumazes ausências e, tantas foram, que acabou sendo obrigada a admití-las como uma cruz que, mesmo sem merecer, teria que carregar.
Então, gosto do mar desde pequenino, aprendi a nadar sozinho, engolindo muita água e escapando de afogamento por obra e graça de Iemanjá (saravá), que olhava com bons olhos aquele garoto magricela, mas invocado, que ousava invadir-lhe o domínio e "ainda por cima pelado!"
A sirizada, preparada numa lata de banha de 20 quilos, tinha sempre o acompanhamento de suculentos mexilhões arrancados também do fundo, pois eram bem maiores e do eventual produto da pesca de caniço. Enfim, uma autêntica caldeirada, sem maneirismos ou cerimônias, porque era servida naquela velha lata mesmo.
Tenho pelo mar uma irresistível atração, preciso do encanto do seu cheiro, do marulho das ondas, da espuma, do sal, da sempre cambiante cor, mas tenho-lhe , também, respeito como o que se deve a um pai; temo-o quando se enfurece, escurece, espuma e brame e arremete sobre as rochas. Sei que ele terá alguma razão para tanta ira. Possivelmente estará sinalizando aos homens que não está nada satisfeito com a forma como o estão tratando, como o estão poluindo, envenenando, enchendo-o de lixo, contaminando-o com metais pesados, com resíduos industriais de toda a espécie, com óleo, petróleo e, agora, com a escória das usinas nucleares!
Esse maravilhoso mar, poeticamente cantado por Caymmi, exaltado por Jorge Amado, berço de toda a vida do planeta, inesgotável fonte de alimentos, que são entregues aos homens sem nenhum custo, começa a sentir o mau trato que vem sofrendo há séculos, como sempre alertou seu maior defensor, o bravo e inesquecível Jacques Cousteau.
Na ânsia do hoje, do agora, do imediatismo, da fingida ignorância da gravidade da situação, o homem continua destruindo o mar e a terra, desmatando, queimando, desertificando grandes áreas, extinguindo espécies da fauna e da flora, colhendo todos os ovos de tartarugas postos nas praias, olvidando o defeso, enfim, agindo como carrasco de si mesmo.
Sinto que alguma coisa terá que acontecer em breve, que a providência divina abra os olhos dos homens, que os faça ver quão grave é o momento e que nos encontramos numa encruzilhada. Se decidirmos seguir pela trilha errada, vamos, seguramente, encontrar um precipício e já não haverá mais tempo para evitar a queda.
Quero, exijo, de volta o meu mar, de águas verdes cristalinas, de areia imaculada, de pululante vida marinha, da graça dos golfinhos brincalhões, das mansas arraias, das pesadas baleias, dos densos cardumes de sardinhas, do humilde carapicu...
Ao reconquistar terrenos invadidos pelo homem, o mar deixa bem claro que não vai abrir mão do que lhe pertence, do que é seu desde a criação do mundo.
Saibam eles que a mensagem já está sendo dada e que Netuno brande um tridente que possui enorme poder e sabe muito bem como usá-lo!