Bitucas

Ela deu uma ultima tragada.

Uma multidão subia pela escada do ônibus, enquanto ela tragava toda a nicotina que podia, como se aquele cigarro fosse o ultimo da sua vida; em seguida, jogou a bituca longe e sumiu dentro do ônibus, em meio uma cortina de fumaça que seu pulmão exalara.

Não sei o que houve com a moça, nem se aquela foi a sua ultima tragada; mas sei que fim levou a sua bituca de cigarro. Aquela mesma tarde, na mesma rua onde a vi entrar no ônibus, assisti pela TV, esgotos entupidos transformarem rua em rio; gente em peixe.

Culpam São Pedro, culpam o prefeito; mal desconfiam que o verdadeiro culpado foram os donos das bitucas, das latinhas, dos papeis de bala, dos jornais usados e das sacolas de plástico descartáveis que voam pela janela e entopem boeiros e fazem cair as lagrimas dos olhos de quem perdeu tudo, em mais uma enchente de verão na cidade grande.

Frank