(Des)Inspirado

Coisa engraçada é a inspiração. Escrevia coisas medíocres, letras de músicas revoltadas, sem sentido, nem forma. Versinhos de amor dignos de pena e de pouca admiração. Tive uma paixonite adolescente arrebatadora, que me inspirou a fazer belos textos e em seguida a descarregar revolta, mágoa e tristeza em textinhos mixurucas que nem existem mais. Estão reciclados na página de caderno de um condenado qualquer, ou foi queimada no lixão. Mas escrevia, escrevia bastante, tinha idéias legais, mas ficava tudo uma merda.

Foi quando eu tive um blecaute literário, passei três anos sem escrever nem lista de mercado. Podia listar então os motivos que me levaram a não escrever. Um namoro sem sal, algumas saídas para qualquer lugar onde eu pagasse vinte reais e pudesse beber o quanto agüentasse. Maldito cursinho pré-vestibular, só tinha em minha cabeça fórmulas de física, teoremas de matemática, teorias de química, enfim, tudo aquilo que nunca tive dificuldade, mas também não era bom o bastante para o “teste em que ‘eles’ esperam que você falhe”. Li alguns livros interessantes, vi alguns bons filmes, mas nada que me despertasse aquele ardor psíquico e a vontade absurda de passar aquela ideia para o papel. Também trabalhava bastante, não tinha o fim de semana livre, queimava qualquer vontade de fazer qualquer coisa naquelas seis horas diárias de vazio.

Foi quando apareceu o que eu jurava por tudo que era mais sagrado (apesar de pouquíssimas coisas serem sagradas para mim) ser amor. Simplesmente apareceu, aflorou, aquela menina que esteve sempre do meu lado e era minha amiga. Ah, o namoro. Quando for amaldiçoar todos esses desgraçados “Love songs”, comédias românticas “mamão com açúcar” e poemas e textinhos românticos, saiba que realmente é o amor (ou a sensação de ser algo parecido com ele, não tenho certeza ainda) a maior fonte de inspiração para qualquer um. E a sensação absoluta de depressão e miséria que acontece quando alguma coisa dá errado, também.

Mas então, acabou. E acabou de verdade. Não acabou com nenhuma intriga maligna ou armação de vilã de novela. Simplesmente acabou, matamos aos poucos o que sentíamos, matamos aos poucos o respeito e a consideração. E eu vi diante de mim dezenas de textos maravilhosos e...surpreendentemente vazios. As músicas do Nando Reis que tanto significaram para mim e que me derrubavam que nem o chute do Anderson Silva no Belfort nas outras vezes em que havia ficado sem ela, de repente não significam mais nada.

Qual é, enfim, a importância do momento nisso tudo? A literatura não é momento? Não são momentos relatados e eternizados? Por que então toda aquela beleza, aquelas promessas, aquela admiração e eterna devoção me parecem palavras ao vento, sem significado algum?

Não, não quero que o destino destes textos seja o mesmo das minhas mediocridades juvenis. Porque, como escritor, nunca fui tão completo e nunca fiz as coisas com tanta paixão como quando eu estava com ela. Não posso (em respeito ao meu ego enorme), jogá-los fora.

Publicá-los simplesmente como textos meus, sem dedicatória, seria falta de respeito em relação ao que eu senti? E publicá-los com o nome dela, seria falta de respeito em relação a mim?

Eu não sei, eu só vou esperar a inspiração voltar. Porque esse, com certeza, é um dos meus piores textos nos últimos anos. Será que todo escritor é movido pela intensidade? Será que o marasmo não atrapalha quando você senta, pega o caderno e caneta? Ócio criativo é o caralho.

Diego Biagi
Enviado por Diego Biagi em 15/07/2011
Código do texto: T3097431
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