Guerra Fria

Caio terminou com Marininha. Ou foi a Marininha que terminou com o Caio? Não sei. Os detalhes não vem ao caso, mas segundo consta, foi um término até que amistoso. De certa forma, veio como um alívio.

Aconteceu que o amor já estava como uma fogueira de final de acampamento. Minguante como a lua da noite que eles ficaram pela primeira vez, no bafo quente de um verão praiano há 2 anos atrás.

E tal sentimento os levou a um consenso doloroso para ambos. Melhor do que um término por um chifre ou uma briga de pratos e corações partidos.

Com um nó no peito por estarem reconhecendo o final de algo especial, sentaram num banco e decidiram em comum acordo selar o fim das risadas entre camadas de edredom.

Se despediram com um abraço apertado, que trouxe com ele uma rápida edição de momentos passíveis de suspiro. E depois dos letreiros, foram se deitar nos mesmos lençóis, agora acompanhados somente de lembranças confusas e pensamentos de “segue o barco.”

E os dias de fato se seguiram, com cada parte do ex-casal ainda tateando seu caminho entre long necks e flashes de balada.

Estavam treinando a se acostumar com a ausência de boa parte de seus pensamentos e telefonemas. E indo muito bem, obrigado.

Até ligarem o computador.

Eis que o mundo mágico do template azul revela para os olhos de um sonolento Caio uma foto. Sua ex, exalando sensualidade enquanto laçava um pilar com uma perna, com os olhos brilhando por prováveis shots de tequila.

Em um assustado reflexo, fechou a página.

Em questão de segundos, abriu de novo.

Passou o fim de semana e lá estava o antes discreto Caio marcando presença no Facebook, com a camisa aberta e os olhos em farol baixo. No rosto, o mais malandro dos sorrisos. Em cada bochecha, um feminino beijo estalado.

O telefonema de uma amiga descreveu em detalhes a solteirice da imagem para Marininha, que imaginou até a estampa da camisa em vingativo silêncio.

A resposta veio como um míssel intercontinental. O álbum “Feriadoooo”, cuja capa era um pôr do sol e três sombras de meninas pulando em sincronia. Drinks coloridos, marcas de biquíni e legendas maliciosas para fotos de rapazes sem camisa torturaram um enciumado Caio, que entre dentes jurou sua retaliação.

E assim os dias viraram meses, entre fotos e frases de duplo sentido pelas redes sociais. Resistir ao clique era impossível, e a cada novo post o recado era marcado pela angustiante dúvida dele ser de fato um recado.

Tudo era analisado. Da música do dia à frase de MSN, passando pelas interações que o mural do Facebook inevitavelmente trazia aos seus olhos curiosos. Em qualquer ponto de contato poderia estar um possível “olha o que você perdeu” de teor acumulativo, lançado à livre interpretação de cada parte antes envolvida com um título de namoro.

Mas muito mais do que qualquer foto ou novo status de relacionamento, o que mais doeu foi o silêncio.

Passaram alguns meses para os bem acompanhados registros de Marininha curtindo a vida simplesmente pararem de aparecer. Nenhum recado por páginas alheias, nenhuma foto, nada.

Será que ela tinha encontrado alguém? Percebido que o álbum de viagem inesquecível é o que você leva na memória? Que o melhor recado é o que você escreve num cartão de presente?

Para Caio, tantas perguntas tinham uma só resposta.

Era preferível vê-la dividindo baldes de caipirinha do que dividindo a vontade de se ver depois de um dia longo.

A dúvida ditava o ritmo que atualizava suas páginas. Até que o acaso, sempre ele, fez o favor de lhe dar a certeza em uma mesa de bar.

E no vazio da sua caixa de entrada, Caio reconheceu que entre todas as fotos, frases e filmes que enviou para o mundo de pixels e telas azuis, o que sempre lhe faltou foi uma única palavra.

Saudade.