Linhas de raciocínio
(A mão que noticia bobagem é quase a mesma que omite coisa séria)
Certo jornalista escreveu esta semana sobre como o ex-presidente Itamar Franco manteve suas filhas afastadas da mídia e comentou que elas somente “apareceram” para a mídia nas cerimônias de seu sepultamento. Fez comentários elogiosos à opção pela discrição e comparou esse valor ao excesso de exposição que promovia para si o sucessor, presidente Collor, a quem atribui vaidades e exibicionismos extensivos à família e amigos da “república das Alagoas”. Em outras oportunidades vimos ser cobrado de Lula uma postura “adequada” a um presidente, principalmente por seus hábitos neo-populares. Do presidente FHC cobrou-se bem menos. Habituado aos traquejos da classe média aculturada e com a relativa elegância que a vida lhe propiciou, acomodava os ânimos dos “rotuladores” de posturas aos parâmetros que estes consideram aceitáveis.
Admitindo-se outra linha de raciocínio, poderíamos dizer que a imprensa não foi competente para “descobrir” as filhas do presidente de modo a torná-las notícia, ou no mínimo acataram, subservientes, a essa posição do supremo mandatário e que, no outro caso, “embarcaram” nos estratagemas marqueteiros do Collor servindo de agência gratuita de sua propaganda pessoal.
O fato é que os méritos do presidente Itamar, como o Plano Real, a ilibada conduta ética, a coragem de fazer um governo mais socialmente justo, a preservação de seu modo de ser, entre outras salutares posições, ficaram no esquecimento e só foram discretamente lembradas na oportunidade de sua morte. Bem, para ser justo o jornalista teria razão se, tal como os presidentes e suas histórias, lhe coubesse abordagens outras, coisa que o artigo não deixa imaginar.