O Mendigo Da Placa

Uma forma de não cair em tédio durante uma viagem de ônibus é se distrair com as paisagens durante o percurso do ônibus.

No caminho para o meu trabalho, eu vejo todos os dias as mesmas paisagens: as estradas esburacadas, os lixos no meio das calçadas, os enormes prédios lá do centro da cidade onde possui uma excelente infraestrutura nas estradas – o ônibus parece deslizar, diferente da Baixada Fluminense, a região onde moro. É notável a desigualdade estrutural e social.

Um fato curioso neste percurso até o meu trabalho é um senhor, morador de rua, que todos os dias no horário em que passo frente a um prédio luxuoso está lá, de pé se protegendo do frio juntamente com seu cachorrinho vira-lata. Este senhor segura uma placa que de dentro do ônibus eu consigo ler: “ME DÊ”. Imagino se ele consegue ganhar esmolas com aquela placa.

Segunda-feira passo em frente ao prédio luxuoso e lá está ele, de pé segurando sua placa. Terça-feira, lá está o mendigo. Quarta-feira, ainda está lá. Quinta, sexta-feira, sábado. Eu acho que é uma estátua.

Curioso, outro dia eu saí de casa mais cedo que o de costume: vou passar em frente ao senhor caminhando e lhe dá um trocado, vejo-o todos os dias com sua plaquinha, não custa nada eu fazer isso.

Pego o ônibus cedo, passo pelas ruas esburacadas e chego ao centro da cidade. Desço em frente ao ponto do mendigo da placa, mas não o vejo. Decido esperar. ... . Enfim o vejo caminhando e se posicionando com sua placa não mão. Me aproximo tirando uma nota de 5 reais do bolso, mas ao olhar de perto a placa leio algo mais: “ME DÊ...” – e escrito em letras bem pequenas – “... UM SORRISO”. Me dê um sorriso – refleti. Olhei para a face do homem e lancei um sorriso – mas na verdade eu estava rindo de mim por achar que ele queria dinheiro. Inesperadamente, o senhor disse: Existir, eu consigo. Mas eu quero mais do que existir, eu quero VIVER. Tenho sentimentos e conheço a solidão. Tudo o que eu preciso para continuar vivendo é de simples e verdadeiros sorrisos das pessoas.

Raul Rosa
Enviado por Raul Rosa em 15/07/2011
Reeditado em 21/07/2011
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