Sobre crônicas e outras considerações

 

A crônica é um gênero narrativo e assim sendo é de se supor que narrealguma coisa e se fizermos valer o nome, oriundo de Cronos, o deus grego do tempo, essa alguma coisa deve estar em ordem cronológica ou se refira a algum tempo – ou seja, preferencialmente esteja no tempo em que foi escrita. Estando nesse tempo se torna óbvio que sua publicação seja preferencialmente em jornais, revistas e agora, os sites ou blogs.

A crônica não carece de exatidão. Ela é um ponto de vista, uma análise na maioria das vezes com tons emocionais, mostrando um fato através de um ângulo pessoal, que não precisa de confirmação nem de confrontação – é apenas o jeito como o cronista viu algo acontecer, sentiu o acontecimentos que presenciou ou sobre o qual ouviu falar.

A crônica não é jornalismo e nem literatura, mas ao mesmo tempo é jornalismo e literatura – eu diria que jornalismo porque parte da observação de um fato que pode ou não causar interesse, ser objetivo ou subjetivo e é literatura pela maneira com que o cronista consegue trabalhar com as palavras, fazendo delas em algumas situações pequenas obras de arte, o reflexo do cotidiano e do universal em seu mundo particular e emocional. 
 
E é pensando assim que se torna óbvio o meu espanto quando leio a preocupação que invade a mente e o coração de certos cronistas, principalmente blogueiros, que insistem em avisar que aquilo que escreveram não tem nada a ver com eles. Eu particularmente penso que, em qualquer gênero que escrevo, mesmo quando estou inventando uma história, tudo o que escrevo tem a ver comigo e com o modo como vejo e sinto o mundo. 
 

Sei que existem escritores profissionais que montam equipes de pesquisadores para construir uma obra. Sei ainda que em certas novelas televisivas personagens são entregues a autores diversos para que cuidem individualmente das cenas em que atuam. Mesmo assim ali vai estar presente o emocional e o mental de quem cuidou daquela parte da obra, mesmo que a gente nunca venha a  saber quem foi.

Eu, por minha vez, que escrevo apenas por prazer, sem grandes pretensões, não vejo sentido em escrever algo que não penso ou sinto. Dessa forma aviso a todos que se interessarem, que tudo o que eu escrevo, de uma forma ou outra, tem a ver com a maneira com que estou inserida no mundo, com meu jeito de pensar e agir. Sempre busquei a coerência em tudo e seria uma enorme falha escrever de modo diferente da que penso, sinto e faço.