Deu no Globo: Empresário Pagou Propina dentro do Banheiro
Debruçando-me sobre alguns fatos contemporâneos, às vezes penso que o cidadão brasileiro se encontra na situação do “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”.
Nos vinte anos do período que conhecemos por Ditadura, sobretudo após a edição do terrível AI-5, a cidadania atingiu os piores índices de valibilidade. As pessoas sumiam sem que qualquer explicação fosse fornecida pelas autoridades.
A corrupção, que existe em qualquer parte do mundo, por aqui começou a assumir nesse período contornos bem definidos, pois os donos do poder não precisavam dar qualquer satisfação de seus atos, a não ser às suas consciências.
Após a Ditadura, brindou-se a chegada da anistia. E com ela a possibilidade de que a Democracia – que, em essência, não existe – voltasse a ocupar o lugar de que fora removida há vinte anos. Os presidentes civis então começaram a ser eleitos – não o primeiro, o conhecido e ainda atuante bigodudo, que foi empossado pelos militares e, se não me engano, foi um dos signatários do AI-5. Reinauguravam-se as chamadas práticas democráticas.
Só que com elas chegou-se à institucionalização da corrupção, seus contornos assumindo nos dias de hoje aspectos cada vez mais presentes em nossa vida diária. E a impressão que se tem é a de que essa prática se intensificou durante a gestão na presidência de um outro bigodudo, este também barbudo. Onde algumas pessoas enriqueceram desmesuradamente em três ou quatro anos. Observando-se a continuidade dessa anomalia (na verdade hoje se tratam de procedimentos habituais) no governo da atual presidente, em que tivemos o afastamento do Ministro dos Transportes cujo filho, segundo os jornais, obteve em sua(s) empresa(s) um lucro de 86.500%, saindo de um patrimônio de R$ 60.000,00 para cerca de R$ 50 milhões.
Por outro lado, é cada vez maior a conivência entre setores da polícia com chefões do crime ou seus prepostos. Como também não é novidade o que se pode obter no Judiciário, em termos de abrandamento de punições ou mesmo absolvições, desde que se tenha recursos para isso.
Conclui-se então que não há hoje alternativa para o cidadão de bem que queira aferir o grau de cidadania no quadro institucional brasileiro. A quem poderá ele recorrer, se pretender que seus direitos sejam respeitados, sem que precise arcar com determinados custos para esse fim?
Democracia é o que? Governo do povo ou das corporações? E quando será que as empresas se preocuparão com melhores condições de vida para a população se, para tanto, seus lucros tiverem que ser reduzidos? Será que é difícil imaginar a resposta?