Nossas Vidas, Nossas Árvores
       
       Sempre ajudei a propagar, com desconfiança, que João Pessoa é, relativamente, a segunda cidade mais arborizada do mundo e a mais verde do Brasil. Pelo gosto do seu povo, sim. Verifiquem que, em pequenos jardins, entre o portão e a porta da casa, há sempre uma acácia, uma mangueira com frutos ou um florido jambeiro. Em contraposição, imaginei concorrentes cidades que desceram das nuvens em matas virgens da Região Norte e aquelas que, por consciência ecológica, preservam suas florestas entre montanhas nevadas. Não, não poderia haver em João Pessoa tantas árvores, ganhando assim esse destaque no “ranking” das cidades verdes como Estocolmo. Recorri aos dados, que me dizem ter nossa cidade sete quilômetros quadrados de floresta e, em média, 54,7 árvores por habitante, o que lhe renderia essa fama.
      Falam as más línguas João Pessoa, como “a segunda cidade mais arborizada do mundo”, ser invenção de paraibanos, a estilo pernambucano, que foram à ECO 92, no Rio de Janeiro, representando a Paraíba, junto a celebridades do meio ambiente e ilustres cidadãos, como Fidel Castro, François Mitterrand e Dalai Lama, e propalaram essa entre outras qualidades da nossa capital. Como o desejável é sempre maior e melhor do que o real, preferi considerar o desejável como provável... Porém, isso era em 1992. Nosso meio ambiente vem sofrendo abusos: o machado anda à solta, nas mãos dos que, não ajardinando a cidade como sua gente, derrubam, sem constrangimento, nossas árvores. Vejam o Ponto de Cem Réis! E, quase, quase fariam pior com a Praça Rio Branco, se não houvesse agido o IPHAEP, como relatam os autos... Alvitro lembrar-lhes o poeta maior Augusto dos Anjos, em “A Árvore da Serra”, ao rogar ajoelhado ao pai que alegava precisar derrubar a árvore como “empecilho”: “(...) esta árvore, meu pai, possui minha alma!(...)”
       Dias atrás, li crônica de Gonzaga Rodrigues, também implorando às autoridades não deceparem  as árvores das nossas ruas simplesmente para darem passagem aos carros. Argumentava ele quantas árvores já perdemos e quanto da nossa memória, da nossa “alma”, da nossa vida holística. Há quem, ao cometer tais crimes, se defenda com a diatribe de que plantará outra árvore, substituindo a derrubada. Sabe Deus onde e quando... Ora, plantar uma árvore significa acrescentar uma árvore a mais, assim reclama o planeta. Quem se perdoaria ao fazer nascer alguém no lugar de quem matou? Que plante, sem matar... Que os carros procurem outros caminhos. Carros? Não. Que as autoridades respeitem nossas indefesas árvores, deem exemplo aos cidadãos. Se as árvores não andam, vivem, dão-nos sombra, alimento, beleza, e, em todos os sentidos, diferentes das poluidoras máquinas à gasolina, enquanto viventes, movimentam-se com seus corpos e com nossas almas.