SEGUNDA-FEIRA
Segunda-feira deveria ter um dia no ano, talvez ele próprio, destinado à comemoração do "dia mais chato do ano", porque, realmente, ele o é! Claro que seria um feriadão duplamente comemorado!
Perguntem ao Alfredo o que ele acha, agora mesmo que acaba de acordar amuado, estremunhado, suado, ressaqueado e, sem coragem de olhar o relógio, arrasta-se, como zumbi, para uma ducha que ele espera melhorar um pouco seu estado deplorável.
Segue-se o ritual de vestir-se, o que ele faz com um só olho aberto, para, afinal, tomar o elevador (que demorou pra burro) e descer à garagem, onde o espera, pacientemente, o amigão do peito; o seu carrinho querido!
É, talvez, a coisa de que ele mais goste atualmente, depois que seus pais partiram (Deus os tenha) e sua mulher, Teodora, o deixou "já foi tarde".
Cuida dele mais do que a si próprio; lava-o, dá-lhe constantes polimentos, passa silicone no estofamento, enche-o de gasolina aditivada e traz seus pneus sempre calibrados corretamente.
Antes de abrir a porta( que ainda é de chave mesmo), cumprimenta-o com um "bom-dia, Possante", sem o que o dito cujo se nega a pegar.
E lá vai ele, agora já bem melhor, encarar o trânsito, desafiar a sorte, dar e aprender sua aula de sobrevivência diária e pôr à prova sua capacidade de ouvir e não dar atenção aos impropérios que, certamente, lhe serão dirigidos ao longo da sua jornada, não por imperícia ao volante -"eu dirijo muito bem", mas porque talvez estejam com inveja do carrão.
Bem, na "mui nobre ,heroica e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma coisa é chegar e outra, muito mais difícil, é estacionar.
As áreas próprias e mais convenientes são para quem chega no lusco-fusco da madrugada e esse não é exatamente o caso do nosso amigo. Ao longo das calçadas das ruas próximas vale a mesma regra, mas, vez por outras, dá-se uma sortezinha e encontra-se um escaninho.
Em marcha lenta, como seguindo procissão, vai ele procurando, ansioso, a tal brecha e, de repente, "olha uma ali". Mete o pé no freio, quase causando uma colisão, ignora o palavrão vindo lá de trás e dá início à delicada operação que se chama - estacionar.
Depois de inúmeras idas e vindas, tempo em que aquela mesma voz lá de trás esgotava o seu repertório de excusos adjetivos, consegue encostar o carro, não sem antes de tirar uma casquinha da calota da roda direita ao roçar o meio-fio.
Refreando uma imprecação, sai do carro, rodeia-o e vai verificar a calota, já ostentanto outras pequenas mossas e, aborrecido murmura - "coitadinho do Possante". Num repente, retira a calota ferida e vai trocá-la com a da esquerda, a do seu lado, pensando talvez que isso pudesse retirar o azar que parecia acompanhar a primeira.
No trabalho, como era praxe em todas as segundas, o dia transcorreu em puro "slow motion", com diálogos monossilábicos, bocejos indisfarçados, arrastados comentários sobre futebol... mas produção que é bom mesmo, muito pouca.
Para o relógio é que estava voltada toda a atenção do pessoal, mas o bandido parece que estava com seus ponteiros colados por um travesso gnomo e se negavam a sair do lugar.
Mas, como tudo tem fim, o do expediente chegou e a turma, com audível suspiro de alívio, disparou para a rua.
Nosso herói vai de cambulhada e quase correndo como Romeu procurando Julieta, busca o seu querido amigo. Encontra-o e, olhos esbugalhados, à beira de um infarto, vê mas não quer acreditar; todo o lado esquerdo do seu carro, de paralama a paralama, era um amassado só! O retrovisor simplesmente desaparecera e aquela calota, que antes tinha apenas leves escoriações, jazia, agora, em diversos cacos dispersos sobre o asfalto.
Estarrecido, em choque, Alfredo ficou ali parado, olhando, olhando, até que notou uma papeleta presa ao parabrisa e, lentamente, a retirou,leu-a e teve mais uma desagradável surpresa; tinha sido multado por estacionamento em local proibido!
Arrasado, entrou pela porta da direita , sentou-se no lugar do carona e ficou dando palmadinhas carinhosas no painel, até que, não se contendo, desabafou, com os olhos lacrimejantes.
- Te falei, Possante, segunda-feira é um dia desgraçado de chato!
Segunda-feira deveria ter um dia no ano, talvez ele próprio, destinado à comemoração do "dia mais chato do ano", porque, realmente, ele o é! Claro que seria um feriadão duplamente comemorado!
Perguntem ao Alfredo o que ele acha, agora mesmo que acaba de acordar amuado, estremunhado, suado, ressaqueado e, sem coragem de olhar o relógio, arrasta-se, como zumbi, para uma ducha que ele espera melhorar um pouco seu estado deplorável.
Segue-se o ritual de vestir-se, o que ele faz com um só olho aberto, para, afinal, tomar o elevador (que demorou pra burro) e descer à garagem, onde o espera, pacientemente, o amigão do peito; o seu carrinho querido!
É, talvez, a coisa de que ele mais goste atualmente, depois que seus pais partiram (Deus os tenha) e sua mulher, Teodora, o deixou "já foi tarde".
Cuida dele mais do que a si próprio; lava-o, dá-lhe constantes polimentos, passa silicone no estofamento, enche-o de gasolina aditivada e traz seus pneus sempre calibrados corretamente.
Antes de abrir a porta( que ainda é de chave mesmo), cumprimenta-o com um "bom-dia, Possante", sem o que o dito cujo se nega a pegar.
E lá vai ele, agora já bem melhor, encarar o trânsito, desafiar a sorte, dar e aprender sua aula de sobrevivência diária e pôr à prova sua capacidade de ouvir e não dar atenção aos impropérios que, certamente, lhe serão dirigidos ao longo da sua jornada, não por imperícia ao volante -"eu dirijo muito bem", mas porque talvez estejam com inveja do carrão.
Bem, na "mui nobre ,heroica e leal cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, uma coisa é chegar e outra, muito mais difícil, é estacionar.
As áreas próprias e mais convenientes são para quem chega no lusco-fusco da madrugada e esse não é exatamente o caso do nosso amigo. Ao longo das calçadas das ruas próximas vale a mesma regra, mas, vez por outras, dá-se uma sortezinha e encontra-se um escaninho.
Em marcha lenta, como seguindo procissão, vai ele procurando, ansioso, a tal brecha e, de repente, "olha uma ali". Mete o pé no freio, quase causando uma colisão, ignora o palavrão vindo lá de trás e dá início à delicada operação que se chama - estacionar.
Depois de inúmeras idas e vindas, tempo em que aquela mesma voz lá de trás esgotava o seu repertório de excusos adjetivos, consegue encostar o carro, não sem antes de tirar uma casquinha da calota da roda direita ao roçar o meio-fio.
Refreando uma imprecação, sai do carro, rodeia-o e vai verificar a calota, já ostentanto outras pequenas mossas e, aborrecido murmura - "coitadinho do Possante". Num repente, retira a calota ferida e vai trocá-la com a da esquerda, a do seu lado, pensando talvez que isso pudesse retirar o azar que parecia acompanhar a primeira.
No trabalho, como era praxe em todas as segundas, o dia transcorreu em puro "slow motion", com diálogos monossilábicos, bocejos indisfarçados, arrastados comentários sobre futebol... mas produção que é bom mesmo, muito pouca.
Para o relógio é que estava voltada toda a atenção do pessoal, mas o bandido parece que estava com seus ponteiros colados por um travesso gnomo e se negavam a sair do lugar.
Mas, como tudo tem fim, o do expediente chegou e a turma, com audível suspiro de alívio, disparou para a rua.
Nosso herói vai de cambulhada e quase correndo como Romeu procurando Julieta, busca o seu querido amigo. Encontra-o e, olhos esbugalhados, à beira de um infarto, vê mas não quer acreditar; todo o lado esquerdo do seu carro, de paralama a paralama, era um amassado só! O retrovisor simplesmente desaparecera e aquela calota, que antes tinha apenas leves escoriações, jazia, agora, em diversos cacos dispersos sobre o asfalto.
Estarrecido, em choque, Alfredo ficou ali parado, olhando, olhando, até que notou uma papeleta presa ao parabrisa e, lentamente, a retirou,leu-a e teve mais uma desagradável surpresa; tinha sido multado por estacionamento em local proibido!
Arrasado, entrou pela porta da direita , sentou-se no lugar do carona e ficou dando palmadinhas carinhosas no painel, até que, não se contendo, desabafou, com os olhos lacrimejantes.
- Te falei, Possante, segunda-feira é um dia desgraçado de chato!