Mensagem para a garotada das gangues
Mensagem para a garotada das gangues
Cara, o papo é mais ou menos assim – graças ao advento da televisão e outros adventos subseqüentes, vou tomar a liberdade de te dar um conselho: sai dessa. Ao invés de você querer espancar o colega da área ao lado, faz assim, ó: toma um bumba (provavelmente serão dois ou três bumbas), (Bumba= ônibus), daí desembarca, chega num sebo e pede um livro do Byron (se diz Bairon). Não, nunca li nada desse sujeito, provavelmente ele fala de flores, de passarinhos, de romances, isso não importa. E antes de tomar os dois ou três bumbas para voltar, adquire também uma muda de árvore. Quatro ou cinco horas depois, quando você já estiver no seu pedaço, com um livro debaixo do braço e segurando uma plantinha na outra mão os seu colegas de gangue, ou os da gangue adversária, tanto faz, eles vão ter a mesma reação ao te ver: vão te bater até a morte. Ontem mesmo a TV mostrou algo parecido. Esquenta não, brô. Vai por mim, isso aí, do modo que você anda fazendo, vai acabar do mesmo jeito. Pelo menos agora existe uma causa – mesmo que a causa seja rotulada por algo do tipo “você se tornou diferente”. Sei bem que não existe causa pra morrer, mas vamos combinar que a matança que tá rolando por aí é gratuita, então melhor que seja com um livro na mão e uma muda na outra. Onde você vive, tsk, te digo, com uma baita comiseração – ninguém merece. Você vive praticamente num lugar que aquele cara – aquele que tem um rabo, mas não é cachorro, tem chifre e não é boi, idealizou. Sei lá de quem é a culpa. Só faltam as labaredas, embora os seus amigos, de tanto falarem em fuzil, granada e revolver, vão providenciar. É lógico que a culpa não é sua. Na verdade você é a vitima e foi roubado muito antes de nascer. Agora se liga. Vamos supor que você chegou no pedaço e ninguém te viu carregando uma plantinha e um livro. Espera um pouco e, na madruga, sai e planta a árvore. Falta verde nesse lugar, por isso vocês estão assim. Tá bom, falta tudo, mas o caminho a gente abre caminhando, uma plantinha, uma futura árvore, pode não ser a solução, também não há de ser o problema. Com sorte, um daqueles molequinhos de sete, oito anos, que estão achando muito bacana chegar aos quinze com um fuzil na mão, possa, como dizer, ficar inspirado. Mano, vocês são o futuro, tá ligado? Não, eu não, com muito favor sou o passado e no meu enterro só terá um convidado, o coveiro, e olhe lá. Deixa eu te explicar o que está acontecendo, você está hipnotizado, só isso, e isso, meu chapa, está acontecendo em todos os lugares. Tá todo mundo hipnotizado. Acontece que essa sua hipnose aí, pera lá, já te explico, abaixa um pouco esse troço que você chama de música. Que baile funk o que, faz o baile, mas muda o disco, isso não é musica, põe uma melodia no lance, chama o Elton John, oh, espera um pouco, põe na vitrola o Emilio Santiago. Sonzão. Bom, porque estou te dizendo isso? E eu sei? Porque eu posso, por que ninguém te disse nada, porque a palavra supera o cadáver e, ah, sabe o que é que o Mestre falou? Opa, pera aí , se nesse papo a gente mencionou aquele cara, então não vamos falar de Deus? Se liga. Você e eu e todo mundo, em todo lugar é parte dele, sacou? E todo mundo, em todo lugar, não passa de uma história curta. Então vamos curtir a história. Bom, o Mestre falou o seguinte: é mais fácil um camelo passar num buraco de agulha do que o rico entrar no Reino dos Céus. Ora, pura lógica, se tiver que acontecer algum milagre, esse milagre vai acontecer aí. Ah, entendeu... Sei lá, cara, nunca li o Bairon, escolhe outro, tem o Machado, o Rubens, o Caio, é tudo palavra, é verbo, é pensamento, é conversa. Fuzil não pensa, brother. Fuzil não conversa e, enquanto a gente estiver conversando, ainda existe uma saída. Sei lá qual árvore, planta mais de uma. Chances existem de que alguém siga o exemplo e aí, meu camarada, acontecerá o seguinte: uma dessas árvores vai crescer.
Mensagem para a garotada das gangues
Cara, o papo é mais ou menos assim – graças ao advento da televisão e outros adventos subseqüentes, vou tomar a liberdade de te dar um conselho: sai dessa. Ao invés de você querer espancar o colega da área ao lado, faz assim, ó: toma um bumba (provavelmente serão dois ou três bumbas), (Bumba= ônibus), daí desembarca, chega num sebo e pede um livro do Byron (se diz Bairon). Não, nunca li nada desse sujeito, provavelmente ele fala de flores, de passarinhos, de romances, isso não importa. E antes de tomar os dois ou três bumbas para voltar, adquire também uma muda de árvore. Quatro ou cinco horas depois, quando você já estiver no seu pedaço, com um livro debaixo do braço e segurando uma plantinha na outra mão os seu colegas de gangue, ou os da gangue adversária, tanto faz, eles vão ter a mesma reação ao te ver: vão te bater até a morte. Ontem mesmo a TV mostrou algo parecido. Esquenta não, brô. Vai por mim, isso aí, do modo que você anda fazendo, vai acabar do mesmo jeito. Pelo menos agora existe uma causa – mesmo que a causa seja rotulada por algo do tipo “você se tornou diferente”. Sei bem que não existe causa pra morrer, mas vamos combinar que a matança que tá rolando por aí é gratuita, então melhor que seja com um livro na mão e uma muda na outra. Onde você vive, tsk, te digo, com uma baita comiseração – ninguém merece. Você vive praticamente num lugar que aquele cara – aquele que tem um rabo, mas não é cachorro, tem chifre e não é boi, idealizou. Sei lá de quem é a culpa. Só faltam as labaredas, embora os seus amigos, de tanto falarem em fuzil, granada e revolver, vão providenciar. É lógico que a culpa não é sua. Na verdade você é a vitima e foi roubado muito antes de nascer. Agora se liga. Vamos supor que você chegou no pedaço e ninguém te viu carregando uma plantinha e um livro. Espera um pouco e, na madruga, sai e planta a árvore. Falta verde nesse lugar, por isso vocês estão assim. Tá bom, falta tudo, mas o caminho a gente abre caminhando, uma plantinha, uma futura árvore, pode não ser a solução, também não há de ser o problema. Com sorte, um daqueles molequinhos de sete, oito anos, que estão achando muito bacana chegar aos quinze com um fuzil na mão, possa, como dizer, ficar inspirado. Mano, vocês são o futuro, tá ligado? Não, eu não, com muito favor sou o passado e no meu enterro só terá um convidado, o coveiro, e olhe lá. Deixa eu te explicar o que está acontecendo, você está hipnotizado, só isso, e isso, meu chapa, está acontecendo em todos os lugares. Tá todo mundo hipnotizado. Acontece que essa sua hipnose aí, pera lá, já te explico, abaixa um pouco esse troço que você chama de música. Que baile funk o que, faz o baile, mas muda o disco, isso não é musica, põe uma melodia no lance, chama o Elton John, oh, espera um pouco, põe na vitrola o Emilio Santiago. Sonzão. Bom, porque estou te dizendo isso? E eu sei? Porque eu posso, por que ninguém te disse nada, porque a palavra supera o cadáver e, ah, sabe o que é que o Mestre falou? Opa, pera aí , se nesse papo a gente mencionou aquele cara, então não vamos falar de Deus? Se liga. Você e eu e todo mundo, em todo lugar é parte dele, sacou? E todo mundo, em todo lugar, não passa de uma história curta. Então vamos curtir a história. Bom, o Mestre falou o seguinte: é mais fácil um camelo passar num buraco de agulha do que o rico entrar no Reino dos Céus. Ora, pura lógica, se tiver que acontecer algum milagre, esse milagre vai acontecer aí. Ah, entendeu... Sei lá, cara, nunca li o Bairon, escolhe outro, tem o Machado, o Rubens, o Caio, é tudo palavra, é verbo, é pensamento, é conversa. Fuzil não pensa, brother. Fuzil não conversa e, enquanto a gente estiver conversando, ainda existe uma saída. Sei lá qual árvore, planta mais de uma. Chances existem de que alguém siga o exemplo e aí, meu camarada, acontecerá o seguinte: uma dessas árvores vai crescer.