A TURMA DO FUNIL – PARTE II

A PERSEGUIÇÃO

O senso de justiça é algo muito relativo quando se age não com a razão, mas com a emoção. A imparcialidade não existe quando se está emocionalmente motivado. Alguém pode até perguntar se estou me referindo a algum caso de audiência em algum julgamento ocorrido em minha cidade e que eu tenha observado um feito injusto acontecendo por parcialidade da autoridade competente.

Pois bem, quem pensa assim, equivoca-se profunda e redondamente, pois me refiro a um fato corriqueiro da infância de qualquer menino arteiro com uma turma de irmãos e amigos passionais. Fazia um sol de rachar e um calor tremendo naquela tarde e como sempre, no quintal de casa estavam reunidos papai, mamãe, eu, minhas irmãs Rita, Madalena, Conceição e Mirinha, uma amiga, todos numa conversa folgada, quando Luiz, meu irmão, desce morro abaixo, vindo lá da Mina, correndo entre os pés de café da lavoura do Sr. Gildo, suado, cara de apavorado, neguinho já pálido de medo seguido de dois meninos que o perseguiam com a clara intenção de dar-lhe uma boa sova, sabe-se lá porque.

Eram eles Nilcinho e Mauro (os dois primos que moravam do Alto São Sebastião). Havia uma rixa entre a galerinha do Alto e a do funil, portanto nem precisava de motivos óbvios para a perseguição, porque estava intrínseco no orgulho dos moradores de cada bairro o ímpeto de “gerra” e de sobrepujar o oponente, e a mínima coisa se tornava em grande motivo pra um pega pra capar.

Luiz abaixa-se e passa feito um gato por baixo da cerca, com uma velocidade incrível, mas esquece as costas ao arame farpado que faz um lenho nela, o sangue velho escorrendo vermelho em suas costas negras, e ele na hora nem sente, corre direto para dentro do quintal onde estamos proseando. Nilcinho e Mauro atrás dele, até que se deparam conosco esse reconhecendo-se minoria, disparam, instintivamente, . em fuga na direção oposta.

O curioso é que aquele séquito de mulheres, agora, visivelmente enfurecidas disparou a correria atrás dos dois moleques gritando: “volta aqui”, “vocês não são valentes”, “enfrenta a gente”... claro que os meninos não voltaram, antes, sumiram como vento na correria desembestada... e a mulherada tentando alcançá-los, foi até enquanto deu, não alcançando (pudera, não é!), voltou atrás rindo-se dos meninos apavorados.

E o mais interessante ainda desse ocorrido é que, ao retornarem para a sombra da mangueira do quintal de minha casa, continuaram a prosa solta como se nada tivesse acontecido, todos rindo, brincando se divertindo... Disso tudo só o Luiz ficou com o rasgo nas costas que a cicatriz remanescente não deixa esquece... e dizem as más línguas das vizinhas faladeiras, que Nilcinho e Mauro estão correndo apavorados até hoje. A única coisa que ninguém procurou saber de fato, foi o motivo porque eles tentaram bater no Luiz.

(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 14/07/2011)

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 14/07/2011
Reeditado em 14/07/2011
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