O Fantasma da capa preta
Poderia ser um conto fantástico do século XIX, na linguagem de Calvino, ao definir o fantástico como o que só existe na imaginação, ou como algo inventado, fictício. Aconteceu, de fato, comigo e minha filha, nos fins do século XX.
Em Maceió, no bairro do Prado, há um cemitério secular, Nossa Senhora da Piedade. Em uma das suas principais ruas, encontra-se um túmulo em mármore preto, tendo nele sido esculpidos uma capa preta e um ramalhete.
Não me recordo em que época da minha vida fui a um enterro neste cemitério, já que tenho vários tios, irmãos do meu pai, enterrados nele, bem como familiares de várias pessoas amigas. Alguém, que não me recordo, me conduziu até o mausoléu, falando-me que é o túmulo suntuoso da “mulher da capa preta”. Conta-me uma história tétrica e fantástica. Creio que muitos dos maceioenses conhecem–na, fruto da imaginação, criação, invenção. Fiquei impressionada com o relato e duvidei do que me relatou. Uma bela jovem, que gostava de usar uma capa preta, morre em plena “flor” da idade. Certa noite, ela aparece na pista na frente do cemitério e pede carona a um caminhoneiro; passam uma arrebatada e linda noite de amor e ao deixá-la, no mesmo local, ela lhe entrega um papel com o seu nome e endereço, para ele procurá-la, para um outro encontro. Dias passam e o caminhoneiro vai até à casa da jovem. É atendido pelos pais da garota e dizem para o moço que ela havia falecido há muitos anos.
Minha filha cursava medicina na Escola de Ciências Médicas e eu a levava e mais outras duas colegas para as aulas. O percurso, às vezes, eu fazia pela avenida onde está localizado o cemitério e quem passa na pista vê o tal túmulo. Falei sobre a história que me foi contada e até hoje me arrependo muito. Quando passo lá me lembro da história, ela passou muito tempo,também, se lembrando da história macabra. Só devemos passar adiante algo que possa trazer lembranças boas. Infelizmente não houve como voltar atrás. Certamente contei inúmeras histórias não fúnebres, mas a tal ficou registrada e fato negativo é sempre mais marcante.
Se pensarmos em última morda, a mais natural e destino de todos, o assunto parece ficar menos tenebroso, horripilante. Cada um que parte deixa sua história. Alguns deixam rastros de luz e permanecem iluminando as memórias de quem com eles conviveram.Deixaram saudades por terem sido queridos.
A moça da capa preta teve também sua história com seus familiares; talvez tenha tido amores. O que assombra é a história fantasiosa que a morta , algum dia, voltou a habitar o mundo dos vivos. Não é à toa que encontro alguns adultos que morrem de medo dos mortos, supondo que seus fantasmas poderão aparecer. Sempre afirmo que medo fazem os vivos que são do lado do mal.
A história é tão conhecida que, nas prévias carnavalescas de Maceió, à meia-noite, todos os anos sai um bloco de carnaval, com o nome “Mulher da capa preta”, com inúmeros foliões homenageando-a. Partem da porta do cemitério até o bairro de Jaraguá, onde ocorrem os desfiles, sendo um dos mais animados da capital.
Poderia ser um conto fantástico do século XIX, na linguagem de Calvino, ao definir o fantástico como o que só existe na imaginação, ou como algo inventado, fictício. Aconteceu, de fato, comigo e minha filha, nos fins do século XX.
Em Maceió, no bairro do Prado, há um cemitério secular, Nossa Senhora da Piedade. Em uma das suas principais ruas, encontra-se um túmulo em mármore preto, tendo nele sido esculpidos uma capa preta e um ramalhete.
Não me recordo em que época da minha vida fui a um enterro neste cemitério, já que tenho vários tios, irmãos do meu pai, enterrados nele, bem como familiares de várias pessoas amigas. Alguém, que não me recordo, me conduziu até o mausoléu, falando-me que é o túmulo suntuoso da “mulher da capa preta”. Conta-me uma história tétrica e fantástica. Creio que muitos dos maceioenses conhecem–na, fruto da imaginação, criação, invenção. Fiquei impressionada com o relato e duvidei do que me relatou. Uma bela jovem, que gostava de usar uma capa preta, morre em plena “flor” da idade. Certa noite, ela aparece na pista na frente do cemitério e pede carona a um caminhoneiro; passam uma arrebatada e linda noite de amor e ao deixá-la, no mesmo local, ela lhe entrega um papel com o seu nome e endereço, para ele procurá-la, para um outro encontro. Dias passam e o caminhoneiro vai até à casa da jovem. É atendido pelos pais da garota e dizem para o moço que ela havia falecido há muitos anos.
Minha filha cursava medicina na Escola de Ciências Médicas e eu a levava e mais outras duas colegas para as aulas. O percurso, às vezes, eu fazia pela avenida onde está localizado o cemitério e quem passa na pista vê o tal túmulo. Falei sobre a história que me foi contada e até hoje me arrependo muito. Quando passo lá me lembro da história, ela passou muito tempo,também, se lembrando da história macabra. Só devemos passar adiante algo que possa trazer lembranças boas. Infelizmente não houve como voltar atrás. Certamente contei inúmeras histórias não fúnebres, mas a tal ficou registrada e fato negativo é sempre mais marcante.
Se pensarmos em última morda, a mais natural e destino de todos, o assunto parece ficar menos tenebroso, horripilante. Cada um que parte deixa sua história. Alguns deixam rastros de luz e permanecem iluminando as memórias de quem com eles conviveram.Deixaram saudades por terem sido queridos.
A moça da capa preta teve também sua história com seus familiares; talvez tenha tido amores. O que assombra é a história fantasiosa que a morta , algum dia, voltou a habitar o mundo dos vivos. Não é à toa que encontro alguns adultos que morrem de medo dos mortos, supondo que seus fantasmas poderão aparecer. Sempre afirmo que medo fazem os vivos que são do lado do mal.
A história é tão conhecida que, nas prévias carnavalescas de Maceió, à meia-noite, todos os anos sai um bloco de carnaval, com o nome “Mulher da capa preta”, com inúmeros foliões homenageando-a. Partem da porta do cemitério até o bairro de Jaraguá, onde ocorrem os desfiles, sendo um dos mais animados da capital.