DEIXA A VIDA ME LEVAR...

     A música é linda e ao cantarmos, embalados pelo ritmo, talvez não tenhamos tempo de refletir na letra. A filosofia “zecapagodeana” nos induz exatamente isso: a não reflexão. Prá que? Deixemos a vida nos levar, assim tranquilamente, sem maiores preocupações. Até aí (com exceção da não reflexão), tudo bem. Mas ao deixarmos tudo como está, ao abrirmos mão de “tomar as rédeas” da nossa vida, estaremos perdendo uma das características mais marcantes do ser humano: a superação. É nos momentos difíceis que nos armamos de força, coragem e fé para superar as adversidades da vida e se “deixarmos que ela nos leve” sem lutar, desmoronamos.
     Libertar-se de preocupações exageradas é bom, mas desde que isso não nos leve ao conformismo, à estagnação. Se eu parar agora e “deixar a vida me levar” assim, ao sabor do vento, será que vou chegar a algum lugar? Vou atingir meus objetivos? Ou vou simplesmente viver de forma relaxada, sem maiores preocupações? Mas será que isso é possível? Quem é que não tem hoje em dia suas preocupações?
     “Se não tenho tudo o que preciso, com o que tenho vivo” diz a letra e isso para mim  é aceitar passivamente uma situação. Se não tenho tudo o que preciso, vou à luta, vou trabalhar, tratar de estabelecer objetivos e metas, correr atrás e fazer o meu destino. Aceitar o minguadinho no final do mês e achar que está bom é "pensar pequeno". Precisamos de gente com determinação e coragem de ir adiante e fazer a diferença na sua própria vida e na vida de seu país.
     “Deixa a vida me levar” induz a que não tenhamos maiores responsabilidades, mas somos nós os responsáveis pelo nosso destino. A vida, cedo ou tarde exigirá de nós posturas mais contundentes e não podemos simplesmente “deixar prá lá”.      
      “Se a coisa não sai do jeito que eu quero, o negócio é deixar rolar”. Isso depende “da coisa” e “do jeito que eu quero”. Ora, eu posso querer muitas coisas e de muitas formas, mas eu jamais posso, depois de querer muito algo (a ponto de investir nisso) e, ao constatar que não deu certo, simplesmente “deixar rolar”. Não, meus caros!  Eu vou rever as coisas, analisar onde deu errado e tentar, tantas vezes quantas for preciso, até conseguir o meu objetivo.
     “Deixa a vida me levar” e o refrão que vem depois, com um erro de Português “gritante” (“vida leva eu”) é coisa para que eu “seja feliz e agradeça” a Deus, a capacidade que ele me concedeu de raciocinar e, ao fazer minhas reflexões, “não engolir gato por lebre”.
     Sou feliz e agradeço, por tudo que Ele me deu, mas estou consciente de que fiz a minha parte naquilo que me cabia: ir à luta e conquistar as coisas que tenho, por meus próprios méritos.

By Angela Ramalho
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