DE ONDE VEM A BONDADE?

DE ONDE VEM A BONDADE?

O que é bondade? O que é ser bom? Não estou sabendo me dar esta resposta. Mas tive contato com a amplitude desse sentimento e meio embasbacada em não saber definir, talvez quase compreender... Sim, estou em processo de perceber o que seja a tal bondade. Enquanto escrevo vou tendo tempo de perceber e saber a resposta a esta dúvida repentina. Eu contava as notas azuis de cem, notas novinhas reservadas para o pagamento do aluguel mensal, o Sr. Wilson esperava na sala junto à porta, a coisa simples e que se repete a cada mês, que é o pagamento do aluguel e que ele vem sempre receber na minha porta. Tanto isto se repete que já vamos ficando amigos sem notar. Chega cansado e calorão na rua, ele aceita com prazer um copo dágua geladinho, ou uma coca ou um guaraná, ou um café. Às vezes convido-o sentar à mesa de jantar e conversamos sobre os passarinhos da varanda ou o cotidiano do Rio. Recontava o dinheiro e ele disse que já havia conferido de longe que o total estava certo. Foi então que o olhei encostado no umbral da porta e vi como está mais magro, um modo bem mais abatido, e contei pra ele que vou fazer a cirurgia da catarata nesta semana, e ele retorquiu que ele amanhã faz anos. Perguntei, quantos? Quarenta e poucos, mas aparentava várias décadas mais idoso, como se já vivera muitas e muitas experiências de vida sem alegria. Aí é que me espantei com seu aspecto e seus olhos tristes e sem esperança.

Meu coração mexeu muscularmente se expandindo em bondade e sua compreensão. Como um carioca de Vigário Geral, com uma família de mulher e três filhos pode estar assim amargurado me indaguei? Se amanhã aniversaria? E tão jovem e tão cansado? Vai comemorar, perguntei eu? Não é possível, disse. Seu olhar dizia tudo. Foi então que compreendi o que é bondade e de onde vem. Do coração o sentimento se expandiu pra todos os lados esquecendo qualquer coisa mais, abrindo a vontade de compensar este homem de seus desencantos. Fui tirando uma nota de cinqüenta e estendendo pra ele e sua mão veio ao encontro de aceitar. Mas eu queria era lhe dar uma festa completa de aniversário, uma TV, um lazer, uma despreocupação, um conforto de casas Bahia, uma sacola surpresa cheia de notas que aliviasse todos os seus encargos, uma casa ou um castelo cheio de alegrias e despreocupação.

A bondade vem do coração, não é do cérebro. Despedimo-nos com um aperto de mãos e eu dizendo que rezarei para a vida melhorar pra ele, que beijou minha mão respeitosamente e ele fazendo votos para a minha cirurgia correr tudo bem. E saiu pelo corredor. Eu dizendo _torça por mim! E ele _ vai correr tudo bem... E aquele homem se afastando levava consigo a minha incompreensão da vida e a minha humanidade em pedaços, sem entender que para uns é fácil e para outros não é fácil, a alma se esgarçando em abismos incompreendidos, abestalhadamente de como podemos viver sem justiça, sem benesses justas e iguais para todos.