Juan e o direito de ser apenas Juan.

Era um menino como tantos que andam pelo Rio de Janeiro, alegre, estudante de escola pública, morador de comunidade, amado pela família amigos e com bom relacionamento na escola. É como tantos...porque nem todo menino com este perfil tem o chamado desvio de caráter, ele era apenas o futuro, que foi brutalmente interrompido pelo preconceito, despreparo e falta de humanidade e caráter.Era uma criança de frente para o mau.

Juan morreu em um beco sujo, e foi chutado para debaixo de um sofá velho abandonado, para depois ser lavado como saco de lixo e jogado em outro terreno sujo, e esquecido.

Como estes policiais que tinham crime nas costas ainda estavam atuando?

Como é que seres humanos conseguem atirar em alguém, por julgarem marginal, porque é negro e pobre?E depois estes monstros chutam o corpo para debaixo de um sofá velho, como aquelas faxineiras que colocam a sujeira embaixo do tapete para enganar a patroa. Só que os patrões aqui somos nós, cidadãos cariocas, que pagamos impostos, então pagamos o crime legalizado, e a poeira é um ser humano, uma criança que era apenas Juan, e queria e tinha o direito de continuar sendo Juan, mas eles acharam que ele não tinha nome e poderia ser só mais um número em estatísticas macabras.

O Rio de Janeiro passa por mudanças, algumas boas e outras questionáveis, e entre estas o projeto chamado de UPP, ”Unidade de Polícia Pacificadora”, PACIFICADORA... que já está sendo copiado em várias partes do Brasil e exterior, projeto que pode até dar certo se não for só fachada para “limpar” a poeira para debaixo do tapete, e assim justificar os eventos que a cidade vai abrigar e não fizer os moradores das áreas carentes de refém de uma lei própria da elite carioca. Para a UPP dar certo é preciso primeiro habilitar os profissionais que vão atuar e capacitar uma escolha de seres humanos comprometidos com a vida. Sei que na polícia tem gente de bem, bons policiais, mas digamos que a chamada banda podre, age como legumes e frutas podres, comprometendo o restando do cesto. Muita fruta está sendo posta para fora do cesto, mas ainda falta muito, e este acho que é o maior desfio desta reforma carioca. Escutei outro dia um ex caveira, falando na TV, que se forem desabilitar todo policial com crime nas costas a polícia acaba, porque ficaria um número inexpressivo de policiais honestos, e ele falava de mortes criminosas e não em combate, o que já é terrível também, mas saber que policiais que deveriam proteger o cidadão tem critérios próprios e ambição desmedida, é assustador, e isso se arrasta por anos e anos, até culminar em um enorme cesto de frutas podres. Sem falar no sistema penitenciário que a gente sabe que está totalmente caduco e incompetente, não recupera, quem sai de lá pronto para uma vida melhor é um herói!

Quando o Complexo do Alemão foi tomado pela polícia, eu fui a favor e sou ainda, acho que é por ai, infelizmente chegamos a um ponto que as coisas tem que ser feita assim, não é uma questão como muitos pensaram, de acabar com o tráfico porque isso é utopia, não vai acabar,ainda falta muito para entender e capacitar-se para a legalização, legalizar como está vai gerar muita bagunça e até pode piorar, é preciso mais tempo para adequar-se a isso, mas é uma questão de botar ordem na casa, afinal a lei não pode ser a do traficante, e o usuário tem direito de cheirar, fumar, fazer o que acha melhor para si, mas não podem é prejudicar quem fez escolhas diferentes. Aquela comunidade era refém de uma escolha que não fez, e assim como eles vários outros lugares, estavam com o mesmo problema. Muita gente criticou dizendo que os chefes não estavam no morro, mas estavam também, existem chefes dentro e fora das comunidades e ao longo do tempo aqueles que a tv mostrou em fuga estão sendo presos. Mas são muitos não é assim tão fácil. Mas e o outro lado?E os chefes que atuam na quadrilha legalizada, que acoberta maus policias?

Assim como Juan milhares já foram exterminados, e milhares ainda podem ser, se o critério para admissão de policiais e afins, não for mudado, e não falo de salário só, porque quem é ambicioso e desonesto quanto mais tem mais quer, mas falo de preparo emocional, de caráter e formação, assistência psicológica e outras, para que o policial não só seja amparado mas seja acompanhado, em suas atividades, porque quando alguém chega a este ponto de desvalorização do ser humano, não tem mais o que se discutir em termos de salário e desempenho.

Isso é uma situação da polícia brasileira, não é só aqui no Rio de Janeiro, mas estou focando em minha cidade, porque acho que se cada um fizer sua parte em seu pedaço, o todo muda para melhor, não adianta só culpar e apontar o outro e fazer vista grossa para seu lado individualismo não leva a lugar nenhum, não somos uma ilha.Vejo noticiário e leio jornal e assim como as notícias do Rio estão lá, as de outros lugares também estão aqui.E sei que o Rio é a grande vitrine exposta, por ser onde a roda gira...em todo setor, cultural, criminal, etc...

Acho que estamos no caminho, muita coisa melhorou, mas é preciso entender que temos um trabalho árduo pela frente, que envolve, polícia, autoridades, povo e VIDA, que vai levar tempo, e o que não se pode e continuar com atitudes como esta de acobertar a sujeira para baixo do tapete, porque acredito que se não fosse a pressão da opinião pública, o Juan continuava jogado em um terreno sujo e seria apenas mais um número nas estatísticas de desaparecidos.

Augusta Melo

Rio de Janeiro, Brasil

Augusta Melo
Enviado por Augusta Melo em 11/07/2011
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