Desencontrada despedida

Desencontrado, continuamente me protesto. Situo-me sem olhar para os lados – nem para trás. Rejeito a previsão do tumulto, a confusão cotidiana de luzes, cores, sonhos e sons.

“Em frente, rapaz”, impôs o meu andar. Enfrente, ora pois, a dureza de caminhar. E contente, ainda mais, pela oportunidade de se levantar.

Sombras e memórias revisitam a varanda vazia. Ao sabor do vento, as cortinas ensaiam tímidas marchas imperiais: junto aos poucos raios de sol, pretendem irromper pelo aposento e acordar lembranças falecidas, retratos do que não será.

Teu CD de Los Hermanos ainda está dentro do Som. Há muito não toca, pulo faixas. Silencio-lhe tal qual teu canto e teu encanto – desencontrado, desencontrando. Desventura, eu acho.

Pergunto-me que fim teve a foto do meu aniversário de um ano e o CD do Teatro Mágico que havia lhe emprestado. Coração quebrado, dispenso devoluções, Bailarina soldada em chumbo.

Tua despedida virou tatuagem – e o teu adeus uma pequena cicatriz. Mais uma bagagem. Não me reconheço naquele que vivenciou o fim. Renasci, enfim – mas não sem antes arder em meu próprio fogo.

Somos todos fênix de nós mesmos. Reinventamo-nos ao sabor das desilusões e conquistas da caminhada. Do que você levou de mim, sinto falta apenas da caneta do sonhar, com que dava cores a uma realidade melhor.

Poesia à vida, Elis aos olhos, Ipanema aos ouvidos e cores aos sorrisos. Agora, apenas a TV ligada, sem qualquer sintonia.

Vai, não volta mais. Não preciso de ti ou de placebos. Fui coroado rei de mim. Deixe que por vezes eu ande em círculos, finalmente sou eu quem traço meu próprio caminho.

Sorrio: você foi apenas uma pedra no caminho, ao fim.

Lucas Sidrim
Enviado por Lucas Sidrim em 11/07/2011
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