Divórcio e o pacto com o sapo
Assisti uma reportagem sobre o fim do divórcio no Japão. O diferente e o surpreendente é que ao concluírem os trâmites da separação, os ex-cônjuges comemoram. Após o tsunami, os casais, em torno de 22% da população casada, optaram pelo divórcio, após reflexões sobre as opções definitivas que haviam assumido com o casamento.
Fico cogitando sobre os términos dos relacionamentos e que, pelo que presencio, alguém sai sempre machucado e até quase destruído. Como se dá a comemoração? Parecia-me que seria individual; um dos dois é que teria as razões para festejar, ou pelo ganho de liberdade, ou porque já haver alguém na espera.
Fiquei admirada com o costume que está sendo aderido por lá. O divórcio é comemorado com uma festa, como se fosse o casamento, com flores, bebidas, comidas e a alegria dominando o ambiente. Há aplausos por parte dos familiares e convidados, quando o casal adentra o salão de festas. As roupas são antecipadamente preparadas por estilista, o recinto decorado com flores e as alianças são quebradas por um grande martelo. Os restos do símbolo de união são jogados na boca de um grande sapo. O animal representa felicidade, mudança e o pacto tem que ser feito para uma nova vida,obviamente! Para finalizar a cerimônia, o noivo joga o buquê para os convidados. Até que ponto este buquê vai trazer esperança de futuro casamento duradouro para quem o pegar? Sempre acreditei em uma união para sempre. Mas o que é o sempre? Pensava que era até ficar o casal bem velhinho, mas aí vem o inesperado e existe a perda, ou a separação, e parte-se para outros relacionamentos, até se acertar na busca e encontro, por algum tempo ou até que vivam muitos anos juntos. Há um conto fantástico de Prosper Mérimée sobre a Vênus de Illé. Narra que uma estátua de bronze foi achada, casualmente, em uma escavação para retirar uma árvore. Um rapaz do lugar era noivo de uma bela jovem, filha do prefeito. Certo dia, deixou sua aliança no dedo da Vênus e o noivo não conseguiu retirá-la.”Casou-se” com a estátua para sempre. O escritor Ítalo Calvino, organizador dos contos fantásticos do século XIX, escreve: “A Vênus gigantesca, sonho de serena beleza olímpica, se transforma, na primeira noite de núpcias, em um pesadelo de terror.”
Alguns casamentos, não na noite de núpcias, porém com o passar dos anos, torna-se enfadonho, desestimulante e se sustentando porque há fatores como o comodismo, o lado financeiro e a dependência afetiva envolvidos. Escuto falar que é uma solidão a dois. Um deles falhou, como escreve Lispector: "Fazia do amor um cálculo matemático errado, pensando que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Apenas carinho não ajuda. Pensou que amar é fácil." Às vezes nem carinho existe. Nos casos em que as possibilidades de tocar a vida partilhada deixam de existir, é bem melhor cada um seguir seu caminho e construir outros relacionamentos.
Assisti uma reportagem sobre o fim do divórcio no Japão. O diferente e o surpreendente é que ao concluírem os trâmites da separação, os ex-cônjuges comemoram. Após o tsunami, os casais, em torno de 22% da população casada, optaram pelo divórcio, após reflexões sobre as opções definitivas que haviam assumido com o casamento.
Fico cogitando sobre os términos dos relacionamentos e que, pelo que presencio, alguém sai sempre machucado e até quase destruído. Como se dá a comemoração? Parecia-me que seria individual; um dos dois é que teria as razões para festejar, ou pelo ganho de liberdade, ou porque já haver alguém na espera.
Fiquei admirada com o costume que está sendo aderido por lá. O divórcio é comemorado com uma festa, como se fosse o casamento, com flores, bebidas, comidas e a alegria dominando o ambiente. Há aplausos por parte dos familiares e convidados, quando o casal adentra o salão de festas. As roupas são antecipadamente preparadas por estilista, o recinto decorado com flores e as alianças são quebradas por um grande martelo. Os restos do símbolo de união são jogados na boca de um grande sapo. O animal representa felicidade, mudança e o pacto tem que ser feito para uma nova vida,obviamente! Para finalizar a cerimônia, o noivo joga o buquê para os convidados. Até que ponto este buquê vai trazer esperança de futuro casamento duradouro para quem o pegar? Sempre acreditei em uma união para sempre. Mas o que é o sempre? Pensava que era até ficar o casal bem velhinho, mas aí vem o inesperado e existe a perda, ou a separação, e parte-se para outros relacionamentos, até se acertar na busca e encontro, por algum tempo ou até que vivam muitos anos juntos. Há um conto fantástico de Prosper Mérimée sobre a Vênus de Illé. Narra que uma estátua de bronze foi achada, casualmente, em uma escavação para retirar uma árvore. Um rapaz do lugar era noivo de uma bela jovem, filha do prefeito. Certo dia, deixou sua aliança no dedo da Vênus e o noivo não conseguiu retirá-la.”Casou-se” com a estátua para sempre. O escritor Ítalo Calvino, organizador dos contos fantásticos do século XIX, escreve: “A Vênus gigantesca, sonho de serena beleza olímpica, se transforma, na primeira noite de núpcias, em um pesadelo de terror.”
Alguns casamentos, não na noite de núpcias, porém com o passar dos anos, torna-se enfadonho, desestimulante e se sustentando porque há fatores como o comodismo, o lado financeiro e a dependência afetiva envolvidos. Escuto falar que é uma solidão a dois. Um deles falhou, como escreve Lispector: "Fazia do amor um cálculo matemático errado, pensando que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Apenas carinho não ajuda. Pensou que amar é fácil." Às vezes nem carinho existe. Nos casos em que as possibilidades de tocar a vida partilhada deixam de existir, é bem melhor cada um seguir seu caminho e construir outros relacionamentos.