QUANDO EU FALO, TÁ FALADO!
— Mãe?
— Hã?
— Eu quero ir na casa da Maria Eduarda...
— Agora não, Carol...
— Eu queeeero, sim, mãe!
— Já disse que não, filha!
— Mas eu queeeeeeeroooooooo!
— Mas não vai, já falei!
— Ah, cê não manda em mim, tá?
— Carol! Que vergonha! Olha a visita! Quê que tia Sônia vai pensar?
— Ah, então por que cê não deixa eu ir na Duda?
— Porque não!
— Então fala por que, uai...
— Não interessa, Carol! E cê me obedeça, viu?
— Ah, eu quero ir na Duda! Eu quero ir na Duda! Eu quero ir na Duda! Eu quero...
— Para, Carol! Eu tô conversando com tia Sônia. Vá lá pra dentro!
— Não voooouuuu! Eu quero ir na Duda!
— Chega, Carol! Cê tá me irritando...
— Cê que tá! Eu quero ir na Duda e cê não deixa... Ah!
— Não fala assim, menina! Não deixo e pronto!
— Então, não vou tomar café...
— Ah, vai! Cê quer ficar doente, fraca, quer?
— Então deixa eu ir na Duda, que eu tomo café...
— Carol! Já falei que não deixo e não deixo mesmo!
— Cê é ruim, viu? Quero ver se eu morrer! Cê vai chorar até...
— Carol que besteira é essa! Nossa, que vergonha da tia Sônia...
— É mesmo! Se eu morrer não adianta chorar, tá? Cê é ruim demais...
— Carolzinha! A mamãe não é ruim... Agora vai lá pra dentro. Tá passando um desenho lindo! Vai lá ver, filhinha!
— EU NÃO QUERO VER DESENHO! DEIXA DE SER CHATA!
— Carol, Carol! A mamãe tá perdendo a paciência...
— Pode perder! Eu quero ir na Duuuuuuda... Deixa, mãe!
— Não deixo. E este assunto tá encerrado, viu?
—A mãe da Duda não é assim, não... Ela deixa a Duda ir aonde ela quiser...
— Eu não sou a mãe da Duda! E cê não vai, entendeu?
— Então eu não tiro o pijama, não brinco, não assisto desenho...
— O quê?
— É... Cê não deixa eu ir... Eu emburro, não dou uma palavra, tá?
— Filha, entende a mamãe! Isso não é hora de ir pra casa dos outros...
— Mas eu queeeeroooo!!
— Nossa! Olha a cara da tia Sônia! Ela tá achando você feia, viu?
— A culpa é sua, eu quero ir na Duda, cê não deixa! Cê é a madrasta da Branca de Neve, tá?
— Madrasta! Carol, cê agora passou do limite! Olha o chinelo no meu pé! Quer ganhar umas chineladas, menina?
— Cê não tem coragem de me bater... Nunca bateu! Só fala...
— Mas agora, vou bater, Carol. Vai lá pra dentro!
— Não vou! Quero ir na Duda! Cê vai deixar?
— Filha, cê não é assim! Que feiura é essa na frente da visita?
— Cê que é malvada, não deixa eu fazer o que quero. E sabe o que vou fazer se cê não deixar?
— Não! Escuta, Carol... Tá bom, tá bom, filha... Vai na Duda! Mas essa é a última vez que você faz isso, tá? Cê sabe que quando eu falo tá falado!