QUANDO (PEQUENA CRÔNICA DA OBSERVAÇÃO)
E, quando todos pensarem que a ilusão acabou, que o prato da elegância foi servido pela escória que se acha o máximo e, na verdade não chegou ainda ao mínimo, quero lá estar de pé, observando tudo, mas, simplesmente mudo.
Quando o macabro som, há muito esquecido voltar a renascer, contra a devassidão engravatada, quero do outro lado da fenda, procurar um espaço entre os curiosos e, contar um a um, a queda dos corpos...
Quando a vastidão das horas, não mais importar e os minutos forem sentidos como tilintar de sinos das igrejas, com o mesmo marasmo dos necessitados da guerrilha, quero estar em algum canto duma ilha, feito pirata dos sete mares, deitado numa rede; ouvindo uma canção de Jackson Five e lendo o manual de Nietzsche só pra dar risada de Zaratrusta, mas em segundo plano, deixar o ouvido atento para captar vez ou outra um estampido parecendo uma espoleta de criança em festa de São João...
Quando a catequese for absorvida pelos moucos e ignorada pelas beatas colhedoras de falenas, quero estar ao lado dos franco atiradores, com a única missão de limpar suas armas...
Quando a intimidação das vozes ganhar lugar nas capas de jornais e pasquins e o anúncio das grandes multinacionais descerem para os rodapés e ficarem ao lado do anúncio contra o HIV/AIDS quero estar de prontidão para dar o tiro de misericórdia, voltar as costas a tudo, seguir indiferente o meu caminho e sair tranquilamente degustando o resto da minha maçã do amor.