A PROSTITUTA

Ela caminhava de um lado para o outro, como um zumbi sem direção, vez em quando parava e assentava num banco ou na mureta que circundava toda a praça.

O tempo passava, as horas caminhavam lentas arrastando os ponteiros preguiçosos de seu relógio em frangalhos, adquirido dum camelô.

Garotos vadios, sujos e drogados, quando em vez, paravam perto dela dirigindo-lhes olhares lânguidos, alguns mais atrevidos, corriam as mãos em seu traseiro que um dia fora belo e empinado.

Ela num gesto de repulsa, batia nas mãos destes e depois acabava sorrindo aquele riso de alguns molares e os garotos saiam em disparada sorridentes festejando a arte que acabavam de fazer.

A tarde chegou empurrando um sol já morno, para dar lugar à noite que buscava seu espaço.

Um ou outro homem se aproxima da mulher, cochichava alguma coisa em seu ouvido, balançava a cabeça com um gesto negativo e partia.

Ela voltava a andar ao redor da praça, sem convicção nenhuma que faria algum encontro naquele dia.

A noite chegando, a tarde despedindo-se convicta de que perdeu suas horas de domínio.

Tudo se repetia naquele vai e vem constante.

A mulher já exausta, frustrada daquele dia sem programas e sem alimentar-se, seguia noite adentro cambaleando de fome.

Anos a fio naquele mesmo proceder estão fixados em seu semblante modelado num retrato terrível da degradação humana.

A vida alheia a tudo seguia em sua rotina sem preocupações ou pouso certo, não há definição alguma de pressa e tempo.

A mulher desmaiou na calçada, as pessoas apenas se desviavam de seu corpo e alheias, seguiam seu caminho rumo à estação rodoviária de Belo Horizonte.

A praça Barão do Rio Branco continuava seu burburinho frenético, entre pessoas, bagagens, motos e carros com suas buzinas infernais.

Ninguém mais pensava na mulher. Passando pelo local, apenas tentei traduzir aquele quadro triste que até hoje jamais esqueci.

Marçal Filho
Enviado por Marçal Filho em 10/07/2011
Reeditado em 07/12/2023
Código do texto: T3086815
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