A PROSTITUTA
Ela caminhava de um lado para o outro, como um zumbi sem direção, vez em quando parava e assentava num banco ou na mureta que circundava toda a praça.
O tempo passava, as horas caminhavam lentas arrastando os ponteiros preguiçosos de seu relógio em frangalhos, adquirido dum camelô.
Garotos vadios, sujos e drogados, quando em vez, paravam perto dela dirigindo-lhes olhares lânguidos, alguns mais atrevidos, corriam as mãos em seu traseiro que um dia fora belo e empinado.
Ela num gesto de repulsa, batia nas mãos destes e depois acabava sorrindo aquele riso de alguns molares e os garotos saiam em disparada sorridentes festejando a arte que acabavam de fazer.
A tarde chegou empurrando um sol já morno, para dar lugar à noite que buscava seu espaço.
Um ou outro homem se aproxima da mulher, cochichava alguma coisa em seu ouvido, balançava a cabeça com um gesto negativo e partia.
Ela voltava a andar ao redor da praça, sem convicção nenhuma que faria algum encontro naquele dia.
A noite chegando, a tarde despedindo-se convicta de que perdeu suas horas de domínio.
Tudo se repetia naquele vai e vem constante.
A mulher já exausta, frustrada daquele dia sem programas e sem alimentar-se, seguia noite adentro cambaleando de fome.
Anos a fio naquele mesmo proceder estão fixados em seu semblante modelado num retrato terrível da degradação humana.
A vida alheia a tudo seguia em sua rotina sem preocupações ou pouso certo, não há definição alguma de pressa e tempo.
A mulher desmaiou na calçada, as pessoas apenas se desviavam de seu corpo e alheias, seguiam seu caminho rumo à estação rodoviária de Belo Horizonte.
A praça Barão do Rio Branco continuava seu burburinho frenético, entre pessoas, bagagens, motos e carros com suas buzinas infernais.
Ninguém mais pensava na mulher. Passando pelo local, apenas tentei traduzir aquele quadro triste que até hoje jamais esqueci.