Os 66 anos de Hiroshima e Nagasaki
Quando grandes tragédias ocorrem, os primeiros cinco anos servem para todo tipo de análise e reportagens especiais serem feitas. Depois disso, perde relevância e só voltam a ser o foco da mídia quando são completados -vamos fazer aqui, um neologismo- “anos meio-redondos” 5, 15, 25 e “redondos” 10, 20, 30 anos. O intuito é relembrar esses fatos históricos de vulto.
Em setembro, dez anos depois da destruição das Torres Gêmeas em Nova Iorque, o terrorismo será posto à luz, reanalizado, refletido e lamentado. Em 2004 foi assim com Senna e no ano passado com Cazuza, data que completamos 20 anos sem o “exagerado”.
2010 foi o ano de relembrar, com pesar, os 65 anos do término da 2ª Guerra Mundial e o indissociável ataque nuclear às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. A bestialidade norte-americana de exterminação humana (atingindo muito mais pessoas que a Al-Qaeda nove anos atrás!) e demonstração de poderio militar à extinta União Soviética assopraram velinhas cor-de-sangue em agosto.
Nos dias seis e nove do mês do azar, o avião alcunhado de Enola Gay sacramentou a morte instantânea de milhares de pessoas, lançando sobre as cidades as bombas chamadas pelo carinhoso epíteto de Little Boy (pequeno garoto). Do hipocentro da explosão, num raio de 2 km, tudo foi destruído. A bomba atômica gera a explosão mecânica, provoca uma onda de calor e, para sacramentar, emite radiação. Esta última não foi a maior responsável pelas mortes momentâneas, e sim pela modificação do código genético daquelas pessoas e de seus descendentes. Consequência? Várias gerações com câncer e outras doenças.
A desgraçada explosão foi eternizada, para que nunca se esqueça nem haja dúvida quanto aos problemas que a exposição à radiação traz, na música “Rosa de Hiroshima”, pelo extinto Secos e Molhados, na voz de Ney Matogrosso.
Felizmente, depois de 1945, a radiação nuclear não foi mais utilizada como bomba para matar populações. O seu uso também pode ocorrer para a produção de energia, mas a má administração desta fonte de energia pode trazer conseqüências catastróficas.
Exemplo disso foi a madrugada de 26 de abril de 1986: a usina nuclear de Chernobyl, localizada em Pripyat (extinta União Soviética e atual Ucrânia), teve medidas de segurança negligenciadas e, consequentemente, vazamento de energia nuclear, radioativa portanto. Milhares de pessoas morreram.
Houve uma série de desinformações sobre o desastre que havia ocorrido, quase levando a uma precipitação radioativa 100 vezes maior que a soma das emissões em Hiroshima e Nagasaki. Para evitar o pânico, a população não foi informada sobre o que, efetivamente, estava ocorrendo. Essa incompetência das autoridades governamentais permitiu que toda a Europa passasse a receber as letais doses de radiação. Apenas depois de 30 horas após a explosão as pessoas foram evacuadas da cidade, porque os níveis de radiação existentes em Pripyat poderiam matá-las.
Ainda, hoje, o acesso às informações sobre Chernobyl é escasso. Porque quanto menos se falar sobre o assunto, menos pessoas lembrarão o acontecido, menos cobrança haverá. Essas “datas redondas” e “meio-redondas” têm grande valor, porque aqueles que não vivenciaram os dramas podem aprender sobre o acontecido. E aqueles contemporâneos aos desastres e que não puderam informar-se quando da ocorrência dos fatos, têm agora essa oportunidade.
Em 2009, elaborei o conto “O tempo parou” sobre os ataques a Hiroshima e Nagasaki e um vídeo com esta história e informações sobre o desastre nuclear. Está visível no meu blog (http://giovanigelati.blogspot.com).
A nossa memória, que é seletiva e curta, não pode ficar à mercê de datas comemorativas, célebres. Não esquecer o que ocorreu de errado é imperativo para que a história não seja repetida. Como reza o ditado, “errar é humano, repetir o erro é burrice”. Acrescento: ignorá-lo é estar fadado a repeti-lo.