Disfarces
D I S FA R C E S
Você viu aquela “formiguinha” passeando entre os docinhos da festa que você estava? Faceira, destemida, circulou a mesa dos chocolates, dos docinhos... Você viu? Era eu... Fantasiada, para ninguém me ver. Tentei chamar sua atenção quando subi pelo seu braço. Você sentindo cócegas, passou a mão e eu tive que descer.
Você lembra da hora que você foi ao banheiro? Lembra da barata, parada, olhando pra você? Era a minha outra fantasia, para ficar bem pertinho de você. Nem imagina o susto que levei, quando vi seu pé se aproximar. Se eu não tivesse corrido tão depressa, tinha certeza que iria me matar.
Não desisti. Precisava acompanhar seus passos. Queria ficar pertinho de você. E quando me vesti de pernilongo, não era para ninguém fazer sofrer. Mesmo sem picar nenhum dos convidados fizeram tudo para eu desaparecer.
Vi você circulando pra lá e pra cá. Tomando uma cerveja geladinha. Conversando, fazendo gracinhas. Beijando as crianças e a netinha.
Estava eu ali, quietinha, uma borboleta. Pregada no teto. Só observando. O vai e vem dos outros e sempre lhe flertando. Parecia estar descontraído. E eu perguntava: será que pensa em mim? Mas acabou logo o meu sossego, quando um dos meninos me descobriu ali. Jogaram tudo para me acertar e você observando tamanha confusão, dispersou a criançada e me mandou voar.
Troquei mais uma vez a minha fantasia. E quando vi que estava para sair. Entrei no seu carro e escondi-me entre os tapetes. E quando estacionou, pulei rapidamente para as suas costas. Levou-me na cacunda e nem sequer me percebeu. Pulei na sua cama, quando tirou sua camisa. E quando suspendeu o travesseiro, não teve jeito, você me viu. Você me encarou. Tremi de medo. Não escaparia. Colocou-me na palma da mão. Eu tão pequeninha. Você me olhava, me especulava. Eu sem saber qual o meu destino...
Alívio total, quando escutei sua voz baixinha sussurrando. Dorme comigo, linda “Joaninha”.