OS BASTIDORES DO JULGAMENTO DE DONA JÚLIA


Para quem acompanhou o julgamento de Dona Júlia e ficou com a impressão que a advogada já está no Céu, achei por bem fazer alguns esclarecimentos técnicos daquele sonho. A causídica está há cinco anos tentando expiar seus próprios pecados no tal de Purgatório. Assim como a simpática senhorinha, também não desrespeitou os dez mandamentos, mas cometeu TODOS os pecados capitais. Bom, vá lá, talvez avareza não. Mas ela em vida não gostava de ir pro meio do mato (por causa dos mosquitos), não suportava banho frio (tomava duchas quentes de mais meia hora sem se preocupar com o esgotamento da água no planeta). Gostava mesmo de conforto a advogada, mas nunca quis nada do que não fosse seu. Muitos outros erros cometeu, magoou alguns de seus próximos, decepcionou clientes que não conseguiram “comprar uma casinha”. De outro lado, sempre se comoveu com o sofrimento do ser humano, e se alguém pelo caminho lhe pedisse ajuda, era capaz de entregar todo o dinheiro que tinha na bolsa. Não sabe se batalhou tanto quanto deveria, e acredita que poderia ter sido muito melhor mãe e filha. O fato é que quando chegou às Portas do Céu, havia uma dúzia de recomendações para pegar “aquele elevador” para os quintos dos infernos! Mas Nossa Senhora, sempre compadecida, teve pena e intercedeu junto ao Chefe, criando esse novo cargo para tentar salvar mais almas. Montaram para a causídica uma salinha na ante sala dos Portões de São Pedro, com enormes prateleiras que logo ficaram abarrotadas de processos. E agora precisa salvar cem almas para ter direito a um novo julgamento. Quem sabe se até lá chega seu grande amor a tempo de votar a favor dela. Pois é, assim como Dona Júlia, a advogada também teve um grande amor e sonhou compartilhar com ele toda a eternidade. A grande diferença, é que Dona Júlia perdeu a esperança. A advogada, não.

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