Tempo
Tempo... Palavra engaçada, confusa e problemática. Tudo isso em uma só. Estranho de se pensar nesta possibilidade. Entretanto, é bom ter tantas variâncias dentro de um conteúdo significativo tão vasto. Realmente é. Além deste, ainda pode ser considerada educadora, curadora, companheira. É uma palavra pra vida toda. Muito embora, nem todos gostem dela...
Estava outro dia a fazer a visita para manutenção do aparelho dentário no dentista quando notei (embora já tivesse visto antes) as primeiras “rugas”. Primeira impressão foi “que massa”. Depois passar a pensar o quanto o tempo havia passado, e quantas vivências já tive e ainda terei ao longo da vida. Nessas horas, é que bate uma sensação estranha, esquisita, definam como queiram. Você pensa no passado, e naquelas pequenas ações que não tomou, e fica a se pensar, “poxa vida que merda”. Daí mais adiante, a vida como num capricho te dá uma oportunidade parecida e a sua ação é diferente, com uma resposta bem destoante da primeira. É nesse momento que o “que merda”, passa a ser um “que incrível”. O mesmo personagem e ações diferentes. Ou seria tudo diferente?
Eis aí que surge a confusão que Cronos (Deus do tempo na mitologia grega) traz. Como podem ser possíveis tais mudanças radicais somente com a evolução do tempo? É nessas horas que ele vem e te faz olhar pra dentro, pro espelho e se perguntar: “Esse cara ainda é o mesmo de 5 anos atrás”? A resposta vem sempre com diferentes pesos para múltiplas pessoas. Alguns começam a admirar fotos de infância e da juventude, e a se divertir pensando no quanto mudaram. Naquela barriga que “surgiu” quando você menos esperava. Os longos cabelos grandes que agora só existem em lembranças e retratos de família. Ou aquelas rugas que te fazem a começar a ser chamado de “velho”, “coroa”, “tio”. Um processo bonito de se ver e notar.
Entretanto, nem todos curtem muito estas mudanças. Alguns tentam se agarrar ao último suspiro de juventude mantendo uma vida com hábitos iguais, rotina e mesmos lugares que a juventude que chega. Ou então começa a “rasgar” o próprio corpo com plásticas, botox, silicone e todos os adventos que a modernidade decidiu proporcionar. O exagero fica expresso em casos crônicos como finado Michael Jackson, que se metamorfoseou toda a face ao longo dos seus 50 anos. São casos tristes, mas ainda assim educadores capazes de demonstrar os perigos de tais processos e mobilizar momentos de reflexão.
Todavia, nem só de filosofia pode se debater o tempo. Como medida cronológica surgiu para demarcar as ações que todos fazem no seu dia a dia. Físicos, matemáticos usam e abusam desta terminologia em milhões de problemas que se atentam a resolver e formular, isso sem contar os insolúveis que vira e mexe ressurgem no ar. Medidas como a determinação de 60 pra segundos e horas, e de 30 dias para a duração de um mês, certamente que intrigam, ao mesmo modo que sucinta uma busca nos anais da história, para a compreensão das transformações da humanidade. E de novo vemos o tempo que passa de problema a educador...
Ê tempo! Também consegue conter dentro de si a inesquecível capacidade para tocar as pessoas e fazê-las ver a frente dos outros. Não o futuro necessariamente, afinal se pensarmos bem, o futuro sempre será um tempo que nunca chega. Assim como o passado é um tempo ao qual não se volta. Então em que momento vivemos? Com medidas de espaço tão inalcançáveis, e por lógica da eliminação só nos sobra o presente. Até por isso devemos aproveitá-lo muito bem. Mesmo que seja somente pra bater a cabeça na parede, e perceber que sim nós sangramos e isso machuca.
Não faz muito paro pra pensar neste movimento de ver a frente, consigo perceber claramente o quanto algumas pessoas conseguem se tornar o ponto de decisão na vida de alguém justamente por serem quem são, ou melhor, agirem como agem. A mãe que, apesar de todos os seus defeitos, passa por cima de um caminhão se possível ao conseguir enxergar dentro do filho, algo que ele pensa estar tão escondido, só para propiciar a ele correr atrás. Alguém que sabe a importância de se movimentar, uma vez que lutou, conquistou e subiu na vida passando por múltiplas dificuldades: “tinha que estudar e trabalhar”. E se perceber ela possibilita crescimentos e maturações acordarem de sonos longos e profundos. Os amigos que estão sempre por perto, chamando, convocando e incentivando a ir atrás. Não desistindo não importa o que. E claro, os irmãos. Isso pra quem tem. Alguns que agem, incentivando, apoiando, dizendo pra correr atrás. Outros que não te deixam esquecer a realidade, e nem cair em relaxamento. Ora, pois o movimento é cíclico e não pode parar. Até por isso que é importante lutar. E ainda aqueles que adoram discutir com você por nenhuma razão, ou brigar pra ter algo pra fazer... Um dia eu comento sobre irmãos...
Pessoalmente, eu acredito no tempo como um senhor das mudanças. Meio que um “camaleão”. Eu mesmo, já passei por várias. A começar pelo meu corpo, que um dia foi pequeno, e hoje está grande. Na verdade, mediano, uma vez que não considero 1,73m um tamanho alto. Cabelos e barba, uma combinação inusitada e somente presente em filmes de heróis gregos ou de guerra. Aí vem a puberdade e muda tudo, e eis então que você se torna Jesus Cristo, Sorín, Giba... Vai ganhando novos e criativos apelidos. Seja qual for a inspiração.
Também pode ser companheiro ao te dar conforto nas horas de aperto. Momentos tristes que levam a buscar apoio nos ombros dos amigos, que te levam a conversar e falar sobre. Como também são aquelas situações em que o menino aprende um dos múltiplos passos para se tornar um homem. Lidar com a dor, a perda, a ida daqueles queridos por tanto tempo. Aprender a formar uma “casca dura”, e, ao mesmo tempo em que enfrenta este sofrimento, pode se tornar um ponto de apoio aos que não conseguem lidar muito bem com isso.
Ajuda-te ainda a perceber o quando a idade começa a pesar para os demais. Especialmente aqueles que já vivenciaram muito e tinham uma tremenda força de vida, mas que se não forem devidamente cuidados acabam reduzidos à uma lembrança de si mesmos. Do passado de quem um dia foi sendo muitas vezes visto como um estorvo aos demais que não buscam e nem propiciam melhores condições para elas. Tristes realidades, que poderiam ser contornadas. Mas, enfim também é um dos traços e marcas que o tempo deixa na vida das pessoas. O importante é saber lidar com estas mudanças. Pois assim como um dia elas chegam aos outros, também chegaram a nós. Se vivermos bem, poderemos dizer: “Então, meu filho, no meu tempo era assim...”
Andarilho das sombras