No dia em que eu morrer...

No dia em que eu morrer...

No dia em que eu me for, ou melhor, morrer, eu quero muito choro, porém, poucas velas; uma estrela já tem luz própria (é meu ego). Quero que o prefeito atual sorria e até gargalhe sobre “eu defunto”, pois não suportaria demagogia; mas quero meus três dias de luto, com direito a bandeira a meio mastro. Não precisarei de carpideiras, pois serão tantas as viúvas que as lágrimas farão transbordar o rio Jequitinhonha.

No dia em que eu morrer, quero que silenciem as buzinas e cantem pelas ruas minhas canções, declamem meus versos e derramem mil elogios sobre “eu cadáver”. Quero que meus inimigos segurem a alça do meu caixão e joguem pás de areia sobre a minha cova, pois quero que me maldigam até o último momento. Meus amigos irão pelo caminho contando meus causos, floreando minha vida, colocando cor, até mesmo, em momentos em que fui ovelha negra.

No dia em que eu morrer, quero que a cachaça seja distribuída de graça, afinal, quem viveu embriagado de versos tem que, pelo menos, embebedar aqueles que nunca conseguiram me alcançar. Quero que os formadores de opinião roguem mil pragas contra “eu cadáver”, pois bem, quem não consegue maldizer o que está na cara, não vai, sequer, arranhar meu túmulo. Quero um epitáfio assim: “Morri, mas continuo insuportável”! Quero que os bares nunca fechem antes da “saideira” interminável e que os boêmios cantem até acordar a surdez inerente.

No dia em que eu morrer, quero que me vistam de preto, afinal, quero parecer magro e esbelto, quem sabe, vem uma anja me receber? Mas, do jeito que as coisas caminham, acho que apagarei a luz e fecharei a porta. Minha saúde é de ferro e sou teimoso, até para morrer. A morte só vai me alcançar, se eu quiser; vixe, fui virar para o lado e quase caí. Saravá, meu pai! Vade retro! Oxe!

CUMPRA-SE

Mário Paternostro