A que ponto chegamos...

Já era aproximadamente 23 horas quando vi uma chamada perdida no meu celular. Ao verificar o número, vi que era o celular de um grande amigo. Imediatamente liguei pra ele pra perguntar o que queria. Ele disse que estava interessado em ter aulas particulares de inglês comigo e pediu pra que eu fosse à sua casa pra conversarmos sobre o assunto. Como estava acabando de sair do trabalho quando liguei, disse que ainda estava no ônibus fretado da empresa e pediu que eu chegasse em sua casa aproximadamente faltando quinze minutos para a meia noite e assim eu o fiz. Chegando lá começamos a conversar e o foco da conversa se desviou; sobre as aulas falamos bem pouco, mas de outros assuntos, fomos até às duas e meia da manhã. Houve um momento em que o Robson me convidou pra irmos fazer uma caminhada e eu aceitei, pois estava muito frio onde estávamos conversando. Fomos. O bairro onde moro é muito perigoso, pois 24 horas por dia tem alguém trabalhando no tráfico de drogas; a madrugada é o pior momento pra sair na rua, mas mesmo assim arriscamos. Em algumas ruas não entrávamos, pois de longe avistávamos “os caras” e voltávamos. Quando já tínhamos caminhado muito e retornávamos à casa do Robson, vimos uma mulher subindo uma ladeira perto de uma rua na qual entrávamos. Ela gritou-nos e nós a esperamos. À medida em que ela se aproximava, percebemos que ela estava sem calçado algum nos pés e ficamos horrorizados pois estava muito frio naquela madrugada. A mulher, antes mesmo de chegar até nós, disse que não suportava mais andar tanto. Aproximou-se, baixou a cabeça e nada disse; ficou quieta com a cabeça baixa como se fosse chorar. Nesse momento muitas hipóteses me vieram à mente. Será que o seu marido a espancou e ela estava buscando ajuda? Alguém em sua casa passava mal e isso a deixou desesperada? Foi roubada? Violentada? Não conseguia parar de pensar enquanto ela decidia se falaria ou não. De repente, ergueu a cabeça e com uma voz muito trêmula disse?

- Desculpe! Eu sei que vocês não têm nada a ver com “os caras” que vendem pedra. Desculpem e Deus abençoe.... ao proferir tais palavras, partiu imediatamente sem nem ao menos olhar pra trás.

Não consegui deixar de responder:

- Vá com Deus você e que Ele abençoe a você! Pois vi que ela precisava mais dele do que nós (Robson e eu)

É triste ver o quanto o vício escraviza as pessoas da nossa sociedade. E pensar que nós seres humanos somos iguais nessa parte de vícios. Todos temos uma sensação constante de insatisfação e de vazio interior. Buscamos a todo tempo algum prazer que nos liberte da angustiante solidão que em certos momentos nos oprime. Muitos encontram esse prazer na comida, outros no sexo, outros nas drogas. Quando encontramos algo que pelo menos momentaneamente preencha o nosso vazio, logo nos viciamos naquilo, e sabemos que os vícios não colaboram em nada pra nossa vida. Quem encontra o tão desejado prazer na comida, termina obeso e com sérios problemas de saúde; quem busca a satisfação no sexo, dá de cara com a vida promíscua e pode terminar com AIDS, alguma DST ou ainda infeliz por ver que com o tempo tornou-se um objeto sexual, que jamais recebeu amor ou carinho, apenas foi um “servidor do sexo”, objeto de utilidade social. Quem busca as drogas, termina na sarjeta e em situações parecidas com a narrada neste texto. A que ponto chegamos...

Adeildo Levigade
Enviado por Adeildo Levigade em 07/07/2011
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