ERA FELIZ E NÃO SABIA.

Como formigas trabalhadeiras as multidões se concentram em espaços pequenos no ir e vir em busca da sobrevivência, e da possível felicidade.

Esquecem-se das belezas da natureza.Se deslocam em febril movimentação na procura de seu futuro, um porvir desconhecido, cheio de surpresas que trarão alegrias ou profundas feridas, chagas que não se apagam quando profundas. Muitas fazem morrer por morrer parte de suas vidas.

O sonho da felicidade é sonho de uma irrealidade quase absoluta, por ser ela relativa e, sendo relativa, se chega, surge com restrições de tempo, e o tempo é antropafágico, devora a si mesmo, perde-se na contabilidade incontável do momento, um breve sopro, a vida.

A relação de tempo e felicidade, na equação da vida, é negativa, pois os elementos que integram a equação só são avaliados de forma positiva quando a negatividade chega de forma surpreendente. É a antítese da tese. É o viver depois o que era antes. Nada do imprevisível se pode medir. O nunca pretendido se apresenta como agora e é, o foi será então aquilatado, pesado, sofrido.

Uma grande fase de alegria, leia-se felicidade, é esmagada por um breve instante de tristeza, que se alonga por toda uma vida.

Tudo o que se viveu fica perdido nas fumaças da saudade.

Para mim é uma referência gigante frase de meu pai quando perdeu seu primeiro e único filho, na época, com dois anos de idade, irmão que não conheci. A frase demonstra em que se resume a vida: “Depois de tua morte compreendi que a vida é uma ilusão que mata”.

Por vezes, na imprevisibilidade, está a ilusão que mata.

Mesmo sendo a vida uma ilusão temporal, devemos vivê-la com toda a intensidade, com alegria, tendo em mira que as passagens tristres e inesperadas não são agendadas.

No cancioneiro popular, reflexão forte em sensibilidade diz, relatando a antiga felicidade: “eu era feliz e não sabia”.

Esse estar no passado pela felicidade então vivida, projetada na tristeza do presente, dá destaque ao tempo em suas vicissitudes e deve morar em nossas retinas na descoberta da natureza em suas ofertas.

Assim, devemos desfrutá-las todas que estão disponíveis aos nossos olhos e sentidos, ao invés de relegá-las à desimportância como se não fossem inestimáveis riquezas.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/07/2011
Código do texto: T3080738
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