Imagem do meu arquivo pessoal - Minas, zona da mata.

COMO RIO, ESVAZIO...


Esvazio-me e encho uma página.  Assim, a tela do computador deixa de ter o ar gélido. Sua frieza dá lugar a sentimentos aquecidos em caracteres. Em letras que formam amor, saudade, alegria, fé, esperança, sorrisos e tantos beijos forem necessários.

Um pouco de choro também, pois lágrima é coisa humana de gente que vive intensamente sem problema em mostrar a face interior que sofre, em revelar fraqueza secreta ou  satisfação tão grande que faz chorar.  Lágrimas podem mesmo traduzir alegria. Um sonho que se realiza emociona tanto que elas descem felizes lavando o coração da espera sofrida. Um reencontro do amor que se desejou para sempre, faz rolarem águas emocionadas da paixão que esperou suave e pacientemente pelo finalmente juntos.  

Esvazio-me. Das palavras. Do sentir. De tudo que me compõe. Imito o rio que transborda retirando das entranhas tudo o que precisava recolher de si. Águas  escorridas de si, o rio mostrou-se mais limpo e belo. Águas mansas e cristalinas puderam tomar o lugar das barrentas. O tempo do choro do rio, das suas lágrimas sujas, partiram cedendo espaço para vida nova em seu leito.

Aprendendo com o rio, esvazio-me. De tudo. Das recordações doloridas. De tudo mais seja desnecessário preservar no rio da minha lembrança. Vazia, outra vez estou pronta para recomeçar meu percurso. Seguir novos caminhos ou, mesmo os velhos,  desviando-me do que não for bom. Viver outras histórias, se não melhores, mais ricas e proveitosas. Encher-me de sabedoria e beleza. E, quando de novo chegar o tempo do deságue, escorram de mim palavras cristalinas das boas lembranças que estiveram retidas neste rio que me tornei.

Rio este a seguir cantando sempre em frente. Incessantemente sem parar!  Atraindo para si olhares felizes e satisfeitos com sua cantoria. Com seu deslizar apressado de quem é feliz só por ser e estar vivo com seu interior renovado. Como quem segue seu destino e sabe onde vai alegre a vida recomeçar.