MUNDO NOVO
Nesse Brasil varonil de muitos e muitos quilômetros quadrados, há valores, diversos, os quais ficam esquecidos nos rincões mais recônditos, principalmente se viveram em época onde não existia a facilidade de uma internet. E o avanço tecnológico vem aos poucos se disseminando, ampliando o acesso, a mudar esse panorama, principalmente quando estamos falando de escritores e poetas, os quais quando não utilizavam escritos em cadernos comuns com caneta de qualquer cor ou até um simples grafite, mal catavam milho em antigas máquinas de datilografar, a esparramar seus lampejos literários.
Aproveito o ensejo para enaltecer um literato conterrâneo – tive prazer em conhecê-lo – nascido no início do século passado, tendo sido amigo e contemporâneo de Jorge Amado, Plínio Salgado, Adonias Filho e muitos outros ilustres.
Eulálio de Miranda Motta (1907 – 1988) escreveu por toda a vida, apesar de ter publicado somente três livros de poesias: Alma enferma (1931), Ilusões que passaram (1933) e Canções do meu caminho (1948 e 1983). Existiram publicações esporádicas de alguns poemas em jornais de grande circulação como Caderno da Bahia, Diário de Notícias, A Tarde e revistas literárias, mas o grosso de sua produção ainda continua inédito, conservado em manuscritos, os quais já foram catalogados por estudiosos desse distinto poeta, que por mais desconhecido, é considerado um dos maiores da Bahia.
Eulálio Motta viveu até seus 15 anos no arraial de Alto Bonito (hoje, distrito de Mundo Novo) e logo depois de uma rápida passagem por Monte Alegre (hoje, Mairi), incentivado pelo pai, foi morar na capital, tendo estudado no Ginásio Ipiranga, formando-se posteriormente em Farmácia, pela Universidade Federal da Bahia. Desiludido, sofrendo de amor, retornou à sua terra natal, onde criou o jornal de Mundo Novo, onde atuou como jornalista e colaborador.
Seu jeito reservado era do conhecimento dos mais próximos, principalmente aqueles que já conheciam alguns de seus poemas. Disse-lhe certa vez, Jorge Amado: “Não seja modesto, sua poesia é da melhor qualidade, apenas você a escondeu de todos.”
Todo o seu acervo já está sendo catalogado pelos estudiosos Patrício Nunes Barreiros (UEFS, UNEB, UFBA) e Liliane Lemos Barreiros (UNEB), onde se depararam com manuscritos, autógrafos inéditos, versões inacabadas de crônicas, rascunho de cartas e até mesmo obras completas, preparadas para publicação. Segundo eles, a cada incursão nos papeis que compõem o que se pode chamar de oficina do escritor, “é como arriscar-se num misterioso e revelador labirinto.”
EDIÇÃO ESGOTADA
Sofria.../ “Faze de tua dor um poema...” / Fiz. [...]
Um livro... “Sofrimento”.../ Ficava na livraria;
Ninguém lia! / [...] Até que enfim tomei os exemplares,
levei-os para casa, num caixão...
Depois de certo tempo descobri.../
que o cupim esgotara
a edição... [...]
(Eulálio Motta - 1907 + 1988)