OS SEGREDOS DA VIDA LONGA

Quando ainda menino, ouvia contar, lá em casa, uma história interessante, que deve fazer parte do folclore, história que vou tentar reproduzir aqui como me ficou na lembrança.

Ia um cidadão pela estrada, a cavalo, quando, a certa altura, passou em frente a um sítio, onde um homem estava sentado no alpendre, debulhando milho. Cumprimentou-o da porteira e pediu licença para entrar. Rápido, Pedro largou tudo, levantou-se e foi recebê-lo. Convidou-o a apear-se e sentar um pouco. O visitante desceu do cavalo, apertou a mão do morador, sentou-se e pediu água, pois caminhara vários quilômetros e estava com sede. Após servir-lhe água do pote de barro, friinha, num caneco, entabularam conversa. Diga-se, desde logo, que o caseiro era um preto velho, de cabeça branca.

Curioso, o cavaleiro quis saber qual a sua idade e se tinha família. Respondeu-lhe que já estava com oitenta anos e não casara porque seu pai não gostara da moça. Em vista disso, resolvera ficar solteiro. – Mora, então, sozinho neste sitio? - Respondeu que não; vivia em companhia do pai e do avô. – Mas, você ainda tem pai e avô? - Tenho, sim. Meu pai saiu para caçar umas rolinhas e o avô, que chegou do roçado há uma meia hora, está aí na sala dando um cochilo. - Quer dizer que moram os três nesta casa? - Sim. Minha irmã, que mora com o marido no sítio vizinho, de vez em quando aparece por aqui. Meu irmão mais moço mora na cidade. - Me diga uma coisa, que idade têm o seu pai e o seu avô? - Meu pai tem cem e o meu avô já passa dos cento e vinte anos, forte como um pé de aroeira. - Pelo que vejo e o que você me conta, todos ainda trabalham e têm boa saúde. Queria saber qual o segredo de viverem tanto. - Já perguntara isso ao avô e ele respondeu: porque nunca apanhamos o sereno da noite e nunca perdemos o da madrugada. Dormimos com o pôr do Sol e acordamos para trabalhar antes de ele se levantar.

São as mais variadas e curiosas as razões apresentadas pelas pessoas de longa idade. Umas alegam que vivem mais porque nunca beberam, nem nunca fumaram. Outras justificam dizendo que sempre evitaram aborrecimentos, viviam bem com a família e jamais tiveram inimizade; que o rancor estraga a vida das pessoas. Outros, ainda, porque só andavam a pé, por mais distante que fosse o lugar onde deveriam ir; isso lhes fortalecia o corpo e lhes dava boa saúde. Estudos apontam também um bom convívio social como fator favorável à longevidade. E por aí vai...

Nos tempos da Mitologia, vários deuses tinham alguns frutos como detentores da propriedade prodigiosa de prolongar a vida. Mais tarde, em certos países do mundo, alquimistas entenderam que poderiam encontrar a fórmula de um elixir da imortalidade ou, pelo menos, alongar a vida em muitos anos. Conta-se até que Newton teria composto um vinho com essa finalidade, mas, ao tomá-lo, morreu.

Já os estudos filosóficos, pelo que pude pesquisar, desde Aristóteles aos mais modernos, abordaram a Vida como um “fenômeno”, sem preocupações em ensinar fórmulas para se viver mais. Li em algum lugar que a FELICIDADE, esta sim, seria um fator propício a uma existência mais prolongada. Mas, em que consiste a Felicidade e como encontrá-la ou buscá-la?

É verdade que a ciência, a medicina em particular, evoluiu muito. Muitas doenças antes incuráveis, hoje são admiravelmente tratadas e sanadas, restituindo-se a saúde ao doente. A orientação para a prática de exercícios, uma alimentação mais saudável, as recomendações para evitar o estresse e uma série de outros fatores têm dado ao homem condições de viver mais e melhor. Entretanto, como “viver melhor” com as preocupações do mundo atual? Tenho minhas dúvidas.

Eu, por mim, acho que, afora fatores genéticos – hipertensão, diabetes, às vezes até o câncer ou outros que impossibilitem uma vida longa – não se tem uma determinada regra para se viver muitos anos. Claro que certas precauções, como não fumar, não beber além do socialmente permitido, não comer desregradamente e levar uma vida produtiva, podem, de fato, contribuir para prolongar a existência. Acontece, porém, vermos pessoas aparentemente vendendo saúde, serem, de repente, acometidas de alguma doença grave que os leva, surpreendentemente, ao fim.

Tive todas as doenças comuns na infância, naquele tempo em que não havia vacinas. Coqueluche, catapora e muitas gripes. Papeira e sarampo, contraí-os já adulto, depois de casado. Até uma paratifo me deixou na cama por mais de um mês. Fiz cirurgia de próstata, benigna, graças Deus. Com 83 anos, submeti-me a uma operação de hérnia de disco lombar e sobrevivi.

Em 1941, como aluno do Ginásio Santa Luzia, fiz, como todos os demais colegas, um exame biomédico, a cargo de um clínico de elevado conceito em Mossoró. Depois de examinar-me, disse-me que eu teria uma perspectiva de vida de uns 50 anos.

Se me perguntassem como e porque cheguei a esta idade – 86 anos – não saberia responder com certeza. Poderia dizer o seguinte: fui bem criado e educado por meus pais, aos quais sempre amei e respeitei, (Na carta de Paulo aos Efésios – Ef 6,3 – ele diz: “Honra teu pai e tua mãe – é o primeiro mandamento para seres feliz e teres vida longa sobre a terra). Meus pais, mesmo com sacrifício, me proporcionaram meios de estudar, o que me deu condições de ingressar no Banco do Brasil, o melhor emprego naquele tempo. Fui muito feliz no casamento com Brasília, que ainda me acompanha no tempo. Tivemos 11 filhos, todos normais, que nos deram 17 netos e estes já nos presentearam com sete bisnetos, uma numerosa e harmoniosa família. Por fim, a permanente convicção do dever cumprido e a conseqüente paz de espírito, graças ao generoso Deus, em Quem creio, a Quem sempre confiei todos os atos de minha vida. Provavelmente, devo-o também às orações de minha Mãe. Não sei, pois, afirmar por que cheguei a esta idade. Sei que a vida é um dom de Deus e isso está dito no Evangelho: a Ele pertence. Teriam sido, então, estas as razões porque já vivi bem mais de 31.000 dias, visto milhares de arrebóis e contemplado outros tantos crepúsculos? Quantas manhãs ainda verei raiar, ou mesmo quantos setembros comemorarei, ainda lúcido, só Deus sabe.

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 06/07/2011
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