A LESMA CONTINUA LERDA

 
Muitos e muitos anos atrás fui tirar minha carteirinha do Mec, isto é, o registro de professora (já feito antes em outro local) para lecionar. Depois de ficar na fila e entregar cópias de todos os documentos pedidos, feita a conferência, mandaram-me assinar a dita – uma minúscula tirinha que nem era de papelão, onde colaram minha foto 3x4. Que eu voltasse para buscá-la quatro meses depois. Quatro meses depois, voltei. Não estava pronta. Daqui a dois meses você pode vir outra vez, atenciosamente me disseram. Esbravejei um pouco mas ninguém escutou. Fiz meia volta. Deixei passar um tempo e faltando pouco para completar um ano, apresentei-me novamente naquela repartição. Pensam que recebi imediatamente minha linda carteirinha? Neca! A atendente teve a cara de pau de dizer que ainda não estava pronta! Rodei a baiana. Alterando a voz, iniciei um grande espetáculo: quero falar com o chefe, você é o chefe? Não. Então vá chamá-lo! Veio outra moça, depois outra, mais um rapaz e outra senhora... e eu dizia a mesma coisa. Ninguém era o chefe, ninguém dava solução. Todos pediam que eu me acalmasse, estava nervosa por quê?... Por quê? Comecei a rir bem alto, hahahaha, porque depois que entrei com o pedido desta bendita carteirinha, fiquei grávida, sabem? (aí eu fazia gestos indicando o barrigão). E meu filho já nasceu! Daqui a pouco ele aprende a falar... E todas as vezes que venho aqui tenho que faltar ao trabalho! E sou descontada!  Você é descontada porque não fez a carteirinha?... E você?... E você?... aposto que não! Será que da próxima vez posso mandar meu filho vir buscar? Nessas alturas toda a repartição olhava atentamente para mim até que uma pessoa lá no fundo do salão acenou para que eu entrasse. Chegando perto da sua mesa, vi o papelzinho com minha foto na máquina de escrever. Rapidamente ela ‘bateu’ nas duas linhas em branco o meu nome completo e as duas matérias que posso ensinar...
 
Lembrei daquela carteirinha por causa do pedido de passaporte que acabo de dar entrada via internet. O tempo passou, o século virou e tudo continua na mesma.  Quer dizer, mais ou menos, porque agora quem faz grande parte do serviço é a gente mesmo, preenchendo formulários com nossos dados, números de documentos, data de emissão, órgão expedidor, etc e tal.  Depois, ir duas vezes à PF. A primeira daqui a dois meses, para mostrar os documentos, tirar foto, deixar impressão digital... e a outra para buscar o passaporte. Quando? Só Deus sabe...
 
Se ainda fosse aqui na minha cidade seria bom demais, podia ir a pé. Mas não é.




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