MANIAS

Era dezembro no Rio e o verão veio com tudo! Todo o mundo sabe que verão por aquí é pra valer mesmo! A época é passada, mas o calor talvez fosse até maior que o atual.
O sol do meio-dia batia em cheio sobre a avenida e criava ondas de calor que subiam, ondulando, e destorcendo o contorno de veículos e pessoas...jurava-se, até, que um ovo poderia ser frito sobre a pista, no que acredito piamente.
Dois amigos aguardavam o sinal para atravessar a avenida e tratar do aguardado almoço, mas a expectativa maior corria por conta de uma mania adquirida tempos atrás e, como dizia o famoso apresentador Flávio Cavalcanti na inspirada letra da música da qual usurpei o título deste meu escrito; "mania é coisa que a gente tem, mas não sabe porque".
Brincadeira inocente, mas que os fazia sorrir, rir ou gargalhar, segundo o grau do absurdo das comparações, pois, quase sempre, o inverossímil é que dispara a mola do humor.
A coisa se resumia a ir andadno e examinando , atentamente, as pessoas que iam encontrando, até se depararem com alguém que os fizesse lembrar de outra bem conhecida e aí dizer seu nome...e dar boas gargalhadas.
Então, encontravam um Roberto Carlos, engraxate; uma Marlene, vitrinista; um Carlos Drumond de Andrade, emergindo de um bueiro da Cedae; um Di Cavalcant6i, varrendo a rua; um Jorge Amado, camelô;
um famoso senador, dirigindo um ônibus; um Emerson Fitipaldi, garção; um Eder Jofre, policial de transito...
Faziam isso tranquilamente, pois jamais o nomeado poderia saber que era a ele a que se estavam referindo, de forma que ninguém seria, de nenhuma forma ironizado.
Acredito que essa brincadeira fazia o efeito de poderoso aperitivo, pois o almoço era lauto e saboreado até a última garfada e a "dolorosa" nem lhes parecia tanto assim.
No retorno ao trabalho, já num caminhar um tanto ou quanto relaxado,
vinham praticando a mesma brincadeira até adentrarem o "hall" dos elevadores do edifício Herm Stoltz, na confluência das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco.
No saguão, já não tão cheio como de costume, notaram um pequeno grupo que aguardava a chegada do elevador e (mania é um caso muito sério) examinaram um a um até encontrarem o rosto que procuravam e, em uníssono, exclamaram: Presidente Café Filho!
Pois, pra seu espanto, do meio do grupo, em voz grave e calma, veio a resposta:
- Boa tarde, meus rapazes.
Era o próprio!
paulo rego
Enviado por paulo rego em 06/07/2011
Reeditado em 20/09/2011
Código do texto: T3078965