Adeus machuca
Adeus Machuca
Não há mais céu, não há
Não há mais vento, não há
Não há mais céu, não há
Não há mais fogo, não há
Não há mais vida, não há
Não há mais vida, não há
Não há mais raiva, não há
Não há mais sonho, não há
La Despedida –Shakira(tradução)
Eu estava sentada na minha cama olhando meu álbum de fotos favorito. A capa estava escrito: ‘ Era uma vez... ’ e ao invés de um conto, existia diversas paginas recheadas com fotos minhas as datas e os locais das fotos tiradas.
- Rose! Hora do café! – chamou minha mãe da cozinha.
Eu folheei a ultima pagina do álbum, e havia uma foto tirada de cinco meses atrás, eu, meu pai, minha mãe e meu irmão mais velho.
Eu senti as lágrimas encherem meus olhos, pisquei algumas vezes para impedir que viessem à tona. Fechei o álbum e coloquei dentro de uma mochila, e fechei o zíper. E joguei nas costas.
Olhei em volta rapidamente, para minha cama, meus bichinhos de pelúcia que eu tanta amava, meus livros que eu levava apenas alguns que eu gostava mais. Algumas mudas de roupas, tênis um chinelo e algumas coisas da minha higiene pessoal. A mochila já era grande, então aquelas coisas não fizeram tanto peso e diferença assim.
Desci as escadas larguei a mochila no corredor e fui para a cozinha tomar meu café da manhã. Eu entrei na cozinha e senti meu coração se apertar. Eu amava meus pais mais que tudo nesse mundo, mas era melhor. Eles ficariam mais felizes sem mim. Eu nunca fora como eles desejaram, eu não era a filha ideal, eu não tinha as melhores notas, e nunca realmente me esforcei para obtê-las. E acho que era isso que eles queriam de mim. A filha perfeita.
Eu dei bom dia da melhor forma que eu podia, e as lagrimas me permitiam. Eles me cumprimentaram secamente como estavam me tratando desde há dois dias que eu falhara numa prova de admissão em uma das melhores faculdades do país. Eu entendia que havia falhado também, mas eu não entendia porque eu tinha que ser perfeita. Ser humano não é perfeito, é? Se fosse, eu acredito que não estaríamos nesse mundo não é verdade?
Eu me sentei a mesa, cortei um pedaço do pão e passei geléia de goiaba feita no sitio do meu avo, senti outro aperto no coração.
Meus pais provavelmente já haviam tomado o café da manhã, pois quando eu me sentei, meu pai saiu da cozinha junto com minha mãe e subiram as escadas. E esperei não os ouvir fechando a porta do quarto deles, e fui para a dispensa, peguei alguns sucos de caixinha, algumas bolachas doces e salgadas e joguei tudo dentro da minha mochila. Abri minha carteira e conferi meu dinheiro, não era muito, mas podia me manter por algum tempo.
Eu engoli o pão com ajuda do leite, e subi as escadas para olhar uma ultima vez para meus pais. Eu abri a porta do quarto depois de bater, e ambos estavam me olhando sérios, sem nenhuma emoção no rosto.
Eu olhei fixamente para minha mãe, seus olhos de uma cor de mel, seus cabelos levemente ondulados, com tom de castanho – médio, sua pele clara, macia e delicada. E seu nome combinava com seu jeito, Helena, significava luz, luminosa, era sempre parecia ter seu próprio sol. Em seguida meus olhos foram para os do meu pai, Eduardo, ele sempre fora protetor como seu nome significava. Ele era alto, cabelos levemente grisalhos, seus olhos azuis como uma piscina, sua pele também clara, e seus cabelos loiros escuros.
-Eu estou indo. – falei tentando passar a tranqüilidade.
-Boa aula. – responderam os dois ao mesmo tempo.
Eu forcei um sorriso, achei ter visto os olhos duros da minha mão ficaram com uma pontada de dor, mas foi rápido demais, que acho que foi imaginação minha.
Eles sempre me davam um beijo de despedida antes de sair, me desejavam boa aula e pediam para eu me cuidar. Mas não naquela amanhã, nem nunca mais, era a ultima vez que eu estaria os vendo, era a ultima vez que eles me viam. Eu já sentia meu coração se despedaçar como um vidro espatifado no chão. Quebrados em milhares e milhares de pedacinhos, impossíveis de se reconstituírem.
Eu desci as escadas, peguei minha mochila, olhei para casa uma ultima vez. Ela estava silenciosa, meu irmão dormia tranquilamente no seu quarto, a sala estava um pouco bagunçada como sempre, mas aconchegante a cozinha o caos era sempre o que reinava ali. suspirei fundo, soltando o ar lentamente e sai de casa, tranquei a porta tirei a chave e olhei para a rua, meu amigo Gabriel estava me esperando com o carro desligado na rua. Eu caminhei lentamente até ele e abri a porta do carro e me joguei no assento do passageiro.
- Tem certeza disso Rose? – perguntou ele após alguns segundos ligando o carro.
Eu coloquei o cinto de segurança e olhei para a fachada da minha casa, o silencio era perturbador, até os passarinhos pareciam em silencio. Fechei meus olhos com força e suspirei assentindo com a cabeça.
-Sim, tenho certeza absoluta. Eles vão ficar bem. – sussurrei baixinho, não tinha controle sobre minha própria voz, e resolvi não testá-la naquele momento.
Gabriel me olhou por um tempo, mas eu simplesmente ignorei e fiquei olhando para o quarto dos meus pais que davam de frente para a rua, eu via as siluetas dos dois andando pelo quarto. Senti meus olhos ardendo, e em seguida as lagrimas desceram molhando minhas bochechas rosadas. Algumas das lagrimas molharam meus lábios e eu senti o gosto salgado, funguei meu nariz já entupido e vermelho do choro. Gabriel estendeu um lencinho para mim eu sorri levemente e peguei o lenço e sequei minhas lagrimas.
-Posso ir? – perguntou ele começando a acelerar o carro.
Eu olhei para casa, fechei meus olhos e sussurrei baixinho.
-Adeus...
Gabriel acelerou e saiu do minha rua, eu olhava pela rua que eu morara a vida toda, as pequenas casinhas com os jardim na frente das casas, cada uma decorada a moda dos moradores. As lagrimas que haviam sido contidas desde há dois dias atrás não cessaram desde que entrara no carro do meu melhor amigo. E não sabia quando terminariam. Eu só esperava que meus pais, que eu tanto amava ficassem bem e não me procurassem. Eu queria vê-los felizes. Sem mim, isso seria possível.