Tormenta Psicológica
A culpa veio como uma cruz de concreto sobre os ombros. Depositada com violência obrigando a via-crúcis que se iniciou com uma hemorragia nos poros, imagens dantescas que se materializavam na memória causaram enormes furos na alma que buscava refúgio no relento da consciência. Porém deparou-se com o breu da razão onde olhos pavorosos apontavam-lhe um crime. Este que não se enquadra nos artigos da lei, que não se entrega a justiça em troca da liberdade, todavia, esta preso na solitária carcomida pela própria alucinação do pecado e se asfixia a todo instante, pois sente que é o único responsável por toda a tragédia que o mundo já experimentou. Quando eclodem os conflitos entre as facções religiosas em que o seu Deus é protagonista da carnificina, corre feito cavalo selvagem para chegar a lugar nenhum já que suas reações são tolhidas pela insana tesoura do seu delito. Ao sentar-se no entardecer para contemplar a magnitude transformadora da luz em trevas, sente que seu peito abafa com o ruído da morte que se aproxima nas tenebrosas fantasias que a noite traz, reflete sobre o seu nascimento miserável e sua fecundação desequilibrada, onde os genitores galgaram as normas da santidade e deixaram que o prazer se atrevesse na sua gestação. E o tempo se passou com um humanóide menino desejando um pão que a sua mesa não tinha, alimentando as esperanças de que o futuro viesse com as mãos cheias de dinheiro, mas o futuro depois de um tempo é só marca de caneta em um calendário esfumaçado numa parede descascada e, tudo aquilo que não se conquistou se converte em pequenas migalhas do destino, recebidas com sorrisos de vencedores já que mais nada se pode fazer. Então tudo se passa em volta de um globo que gira no espaço abobado, com cenas as vezes não vividas, outras engolidas sem saborear-se como deveria, vem um peito mormente confuso e bate acelerado, como se alguma coisa pudesse acontecer para resgatar um sentimento que também se passou como uma brisa odorante de primavera, prometendo uma volta e nunca mais... Segundo os conceitos da Psicologia a culpa é o sofrimento obtido após reavaliação de um comportamento passado tido como reprovável por si mesmo, a base deste sentimento, do ponto de vista psicanalítico, é a frustração causada pela distância entre o que não fomos e a imagem criada pelo superego daquilo que achamos que deveríamos ter sido.