Dois pesos e duas medidas



Com o passar do tempo, a maioria de nós já aceita que a vida em si não necessita mais de nenhum sopro vital ou de algum princípio celestial para existir.
 
Acabamos aceitando a genética, e aceitando também que somos reflexos desta mesma genética e do fenótipo a que somos expostos, como também da cultura (ou incultura) social em que somos criados e na qual vivemos.
 
Infelizmente, a mesma transparência e paralelismo do pensar não perpassam o nosso próprio pensar, nem mesmo a nossa mente ou a nossa consciência de existir.
 
Neste assunto, muitos de nós ainda acreditamos que a mente seja o reflexo de algum sopro espiritual, que nosso pensar, nosso eu, nossa consciência, nossa inconsciência e nossa mente requerem e necessitam de uma espiritualização transcendente para existir. Por quê?
 
Nossa mente é o reflexo de um processo biológico deveras complexo onde algo em torno de 100 bilhões de neurônios e suas quase infinitas conexões sinápticas dão vida ao existir de nosso pensar. Muitos se vêem incapazes de imaginar nossa mente com seus sentimentos superiores como o afeto, o amor, a ternura a bondade e nossa mais pura humanidade como reflexos únicos de nosso status de momento, eternamente plástico e mutável, de nossa rede neural, em nosso cérebro físico.
 
Fica mais fácil para muitos, o que me parece antagônico, aceitar que o ódio, o rancor, a raiva, a maldade, a maledicência, a franqueza e os desvios de nossa humanidade são por sua vez culpa direta de nosso lado animal e, por conseguinte mental.
 
Nossas virtudes são espirituais.
Nossas fraquezas são materiais.
Nossos sentimentos superiores decorem da intervenção e da benevolência de um ser transcendental.
Nossas maldades decorrem unicamente de nós próprios.
 
Como?
Dois pesos e duas medidas?
Por quê?
 
Entendo que somos tão responsáveis como somos passivos, agentes da ação como sofredores da ação, tanto de nossas virtudes quanto de nossas fraquezas. Temos livre arbítrio natural e somos direcionados pelo nosso estado de momento de nossa rede neural, somos passageiros capazes de transformar nossa mente, sendo assim somos mais como condutores que são obrigados a seguir regras e diretrizes mentais, mas com capacidade de escolher os caminhos, desta forma somos responsáveis diretos pelo que fazemos e pelos reflexos daquilo que fazemos, tanto de bom como de mau.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 04/07/2011
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