Estes meus cabelos brancos
Estes meus cabelos brancos
Sempre gostei de cabelos brancos, acho bonito. Quando eu tinha mais ou menos 18 anos e os cabelos no meio das costa, resolvi pinta-los de branco, foi um escândalo, surgiu todo tipo de comentários. Polemica que sou, adorei.
Lá pelos 35, meus cabelos começaram a dar sinal de cansaço e daí por força das circunstâncias, não tive outra opção a não ser “dar-lhes tintas”, todo tipo e cores: loiro claro, escuro, castanho, vermelho, luzes, mechas e mais o diabo que a cabeleireira indicasse, foram anos de massacres e torturas capilares, até que no alto dos meus 50 anos, segura e bem resolvida, dei um basta em tudo.
Quero ter cabelos brancos!
O que não foi fácil, corta, corta, corta de novo, e ainda tem resíduos de tintas, mais uma cortadinha e os pobres fios asfixiados podem enfim respirar sem nenhum aditivo químico.
Enfim a liberdade. Estou bem, esqueci do cabelo. Eu esqueci!
Agora tenho outro problema, se é que posso chamar de problema os aborrecimentos que a meu novo visual desperta. Outro dia caminhando com o meu marido encontramos um velho conhecido, que nos cumprimentou com seu cavalheirismo de sempre e sem que eu esperasse deparou com o meu cabelo e sem rodeios perguntou o que havia acontecido, respondi que não aconteceu nada, dois quarteirões a frente lembrei dos meus cabelos brancos.
Passou a ser rotina encontrar velhinhas em lojas, supermercados, bancos e ouvir o seguinte comentário: “Isso é bom pra gente na nossa idade” ou ainda “Na nossa idade não se deve usar isso”, “Vai ali na fila dos idosos”, “Deixe a vovó passar primeiro”.
Com a minha decisão recebi um certificado de velhice e junto uma lista de regras a cuidados especiais.
Nada contra. Pretendo viver muito, ter oitenta anos se Deus quiser, até mais. Idade nunca preocupou-me, só acho entranho ser tratada por vovó, porque resolvi assumir meus cabelos brancos.
A nossa sociedade é implacável e não se preocupa em identificar valores ou atitudes em qualquer idade que seja. A idade não está nos cabelos brancos e muito menos nos tubos de tintas que a camufla.
Não gosto de rótulos. Prefiro debulhar os meus conceitos e fazer deles um elo que possa agregar valores até então desconhecidos.
Que venham os cabelos, roxos, azuis, rosas, brancos enfeitarem cabeças dignas e produtivas de jovens e idosos de qualquer idade.
Por enquanto fico com o branco e com todas as piadinhas de mal gosto, amanhã quem sabe posso usar um roxo ou azul , depende de como eu estiver. Tenho muita vida pela frente e graças a Deus sou livre e posso mudar de gosto e opinião todos os dias.