PROSA DA MULHER QUE NÃO EXISTE
Ainda nem amanheceu, há pingos de estrelas no céu e a lua feito um imenso globo ocular fita-me inquisidoramente... A minha única vontade é sair sem rumo e nunca chegar – sou apenas um espectro de mulher caindo no infinito rodopiando rodopiando... um turbilhão de questionamentos fura a minha carne e a minha alma ratificando este enorme ponto de interrogação que tenho sido.
A regularidade da vida: esposa, mãe, dona de casa, trabalhadora e, nas raras horas vagas, rascunhadora de poesia...e assim, a minha vida parece completa, não preciso ser alegre nem triste... Mas essa regularidade tem pesado sobre meus ombros feito chumbo e tudo que eu queria agora era pegar o primeiro avião e dar à minha vida o norte necessário. Mas a covardia é minha companheira implacável, então desperto e não sou nada, senão uma figura lívida e estranha na janela do quarto remoendo as mesmas ilusões.