Um certo Natal...

Hoje estive pensando em como aquele sentimento ressuscitado em todos os Natais da minha história não passava apenas de uma questão de ponto de vista. Hoje, quando me dei conta disso, me senti como uma menininha, com pouco menos de seis anos de idade, sendo informada pela Vida que o tal Papai Noel não existe, ou melhor, nunca existiu! Senti que toda aquela ansiedade em comprar presentes, preparar a ceia ou esperar a meia noite não passava de mais uma lenda, de mais um conto de fadas que já não fazia (há muito tempo) parte da minha rotina. Pela primeira vez na vida me senti extremamente sozinha, triste, sem a energia que brotava instantaneamente do meu coração todos os anos já na antevéspera de Natal. Senti como se meu coração estivesse de férias, com expediente fechado e sem data marcada para retorno. Hoje pela primeira vez em muito tempo, não senti a luminosidade das luzes natalinas, não admirei os enfeites pendurados nas janelas, não sorri com a alegria das crianças desembrulhando seus presentes. Nem sequer a doçura e a variedade de doces me incentivou a levantar, a dar o primeiro passo. Hoje pela primeira vez em muito tempo, me senti tão pequena a ponto de não ter coragem de desejar um Feliz Natal para alguém, pois estava longe, muito longe, de transmitir tal sentimento.

Hoje, pela primeira vez na vida, não retribui o gentil sorriso do bom velhinho e nem fiz questão de mascarar a tristeza que estava sentindo em meu coração...

Hoje, pela primeira vez, não quis dançar, cantar, chorar... quis apenas dormir. Dormir e esquecer que o Natal chegou, passou e eu fiquei o tempo todo alheia a essa data que eu tanta amava...

Hoje me senti eu mesma. Sem nada. Sem vida. Talvez o que eu sempre fui e até hoje não tenha me dado conta.

Hoje me arrependo por dívidas que não contraí; por ter tanto medo do escuro do qual nunca ousei conhecer; por tanto seguir regras sem ao menos perguntar para quê; por tanto seguir caminhos pré determinados sem saber ao certo o destino dessas rotas; por procurar motivos palpáveis e não encontrar ao menos os abstratos. Hoje estou estou extremamente cansada!

Meus pensamentos, exaustos, circulam no vácuo de respostas que nunca obtenho.

O Natal dessa noite foi apenas mais um dia. Nada mais, nada menos! Um Natal que não teve o vermelho da vida, muito menos o branco da paz. Um Natal recheado de desconfiança sem razão, culpa sem cabimento e presentes sem significados.