Lar

Ah, o lar. Não existe melhor lugar do que ele. Pelo menos é o consenso geral. Não raro, encontro com viajantes, que a maior vontade que tem é de regressar a ele. Outros por sua vez preferem se afastar e passar longas temporadas fora. Ainda há aqueles que vivem no trabalho, “a casa” se torna somente um “objeto decorativo” que visitam de vez em quando, tanto é que vive a ver uma bagunça eterna, ou um arrumado sem sentido nos dias em que a vêem.

Mas e quando o “lar” não é apenas a moradia? Ainda pode ser chamado de “lar”? Bem, na última semana, pude ter uma noção bastante leve disso, pois pude regressar a um dos meus lares prediletos: a natação. Sim, fazia tempo que não nadava, cerca de 2 meses. Sinto que só pude notar a falta que isso quando estava dentro da piscina. A água estava uma verdadeira “geleira”, então havia pouco tempo pra notar o clima. Logo que entro nem titubeio muito e vou logo fazendo uma “série”, ou como o professor diz uma seqüência: 4 de 75 (craw, costas, peito). Creio que entendi errado, pois fazia realmente uma volta de cada estilo completando ao todo 12 voltas. Mas enquanto nadava o craw, e depois que passou o frio, pude novamente sentir todo aquele prazer por nadar. Afundar e levantar, com o peito, tendo respirações longas e curtas. Realmente senti como se estivesse em casa. Sai um pouco cansado, mas com um principio desta sensação.

A certeza que retornara ao meu lugar veio na sexta. Dentre as braçadas que fazia, podia notar uma “energia” que me circundava a cada momento. Parecia uma grande vibração. Com o craw ia “remando” com os braços pela piscina e acelerando com os pés a cada pernada. O olhar fixo em baixo nas linhas da piscina me fazia ter noção da minha velocidade. Mais rápida do que imaginara para alguém que ficou parado tanto tempo. Até o nado de costas, (de longe, meu pior estilo) estava indo bem. Quase não trombava nos cubos que dividiam as raias. Isso não me assustava. Pelo contrário, só me impulsionava mais e mais. Claro, dentro deste “ritual”, ainda sobrava tempo para as paradas para respiração: 30 a cada seqüência terminada. Já no final do cronograma, pude me deparar com um fantasma e, ao mesmo tempo um das melhores razões de se nadar: borboleta ou golfinho como queiram. Eram 6 voltas. Todas indo golfinho e voltando relaxando. O meu desafio era moderar a energia. Até hoje não conheço nenhum nado que me “canse” mais do que o golfinho. Até a quarta volta conseguia ir bem. O balançar das pernas em bater na água, conjuntas quase como uma só, me dava forças para sair da água e na mesmo ritmo levantar os braços que saíam da água como a boca de um tubarão, batendo em conjunto com as pernas, empurrando o corpo a frente. Tchibum! Tchibum! Pra complementar o ensejo, ainda vejo os primeiros raios de chuva caindo sobre a água. Ah, a tarde não poderia ser melhor. Ao fim, senti o cansaço pesando sobre o corpo. Entretanto, ao mesmo tempo, podia sentir uma grande energia circulando. Estava “elétrico” por assim dizer, o que acabou me incentivando a me mexer e sair a noite, trocando totalmente de planos, uma vez que pretendia no máximo alugar um filme. Uma dessas sensações raras que só aparecem de vez em quando...

Assim como dissera no começo também sou um viajante. Apenas não passei longas temporadas distantes do lar. Pelo menos não sozinho. Com a família já cheguei a passar longe de Maceió. Sem ela, o meu recorde foram 13 dias na Europa a cerca de 2 meses atrás. Durante este tempo, não sentia tanto a falta de casa. Esta sensação só veio nos últimos dias, quando estava perto da excursão terminar e regressar da Alemanha ao Brasil. O que eu sentia era a falta de parar um dia e apenas pensar: “o que farei amanhã?”. Com todo o programa já desenhado, escrito e elaborado havia pouca fuga para... a própria fuga em si! Não havia espaço e nem tempo para sair andando como um mochileiro. Que é justamente um dos meus desejos. Viajar realmente com uma mochila nas costas, sonhos na cabeça e uma vontade imensa de rodar o mundo. Não almejo agir como alguns amigos que passam vários dias a trabalhar e dormir na casa de conhecidos, entes queridos e quase nunca regressar ao lar. Tanto é que quando regressam dizem: “cara, faz 3 meses que não venho aqui. Tá tudo uma bagunça!”. Eventualmente, hei de voltar ao lar. Mas sempre com boas estórias pra contar. E espero que uma farta a ouvir.

Andarilho das sombras

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 03/07/2011
Código do texto: T3072447