O filho da Prostituta

Eu sabia, sua mãe, naquele cortiço, naquela casa de madeira sobre o ribeirão, vendia seu corpo! Devia vender barato já que se mostrava sem muitos atrativos segundo os padrões de beleza impostos. Já também relaxado, pelas premências, pela idade, e , de forma submunda, suja, empurrada pela necessidade e pelo que impõem a sociedade hipócrita, ganhava ou não uns trocados para o pão ou para a cachaça.

Tinham pouco para viver, pouco para comer, muitos para compartir.

E aquela figurinha pequena, triste, desprotegida, num canto, ficou gravado em minha memória, destarte o tempo decorrido.

Os outros a tinham como uma biscate, termo que me doía ouvir. E me condoía pela sorte do garoto. Era enfim um amiguinho de infância.

Logo recebia conselhos para afastar-me daquelas paragens. Era a manifestação da crueza social. Eu também era menino, mas com outra sorte. Mal entendia o que se passava

E me punha compadecido a pensar, no que estaría determinado no caminho daquela vida. Qual seria seu destino?

Os outros garotos o insultavam... Filho de prostituta, filho de biscate... e cochichavam... a mãe dele é puta...

Mal sabiam estarem já inadvertidamente transformando aquela alma, preparando mais um pária da sociedade, selando de forma cruel o destino daquela criatura... e eu me compadecia... e me sentia mais previlegiado.

Porque havia de ser assim, quantas vezes isso se repetiu, onde estará?

Ah! Mas esse meu Deus há de ter também se compadecido daquela alma, e, em sua infinita bondade, haverá de ter lhe dado um bom destino.

Mas, se acaso veio a sucumbir em sua luta para sobreviver na vida inóspita e excludente que provavelmente lhe estaría reservado, Esse mesmo meu Deus de infinita bondade, há de tê-lo acolhido em Seu reino, afinal, o céu certamente tem lugar para esses tipos de filhos de putas.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 02/12/2006
Reeditado em 02/12/2006
Código do texto: T307231
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