Um poeta vinculado às lutas sociais

O livro de George Plekhanov (“Cartas sem endereço”, tradução editada em 1.965 pela Brasiliense) escrito originalmente em 1.912, é um dos clássicos da filosofia. Foi pioneiro em debater se existe uma arte pela arte, solta no espaço, sem raízes psicológicas e sociais que intuitivamente buscam pela beleza criativa justificar ou explicar o viver do ser humano. Plekhanov formulou estas perguntas: “pode a arte contribuir para o desenvolvimento da consciência humana? deve ter um fim utilitarista ou é uma finalidade em si?”, sem chegar a uma conclusão definitiva. E ainda hoje é viva a discussão entre os que defendem a arte engajada a uma causa e os que somente reconhecem como arte a obra sem compromisso com as lutas sociais. O debate, que continua bem vivo, muitas vezes encontra opiniões inesperadas como aquela que defende Machado de Assis como um engajado crítico da sociedade farisaica de seu tempo, fato que vai de encontro com o prestígio mundano do escritor entre a camada dominante do Rio de Janeiro de seu tempo. Os criticados não percebiam que estavam sendo retratados de modo negativo.

Agora a Academia Ribeirãopreteana de Letras recebe um poeta vinculado às lutas sociais. É o ribeirãopretano Wanderley Caixe, que conheço desde os anos 60, quando, muito jovem, já era um nome de expressão que viveu históricos capítulos da contínua luta de aperfeiçoamento da Democracia. Vanderley é meu confrade na Academia Ribeirãopretana de Letras desde 13/11/06, quando tomou posse da Cadeira 2, que tem como patrono o poeta ultra-romântico Álvares Azevedo, em sucessão ao saudoso Wilson Roveri, escritor e jornalista.

Vanderley é poeta. De seu culto à dialética que comanda a História, certamente sabe que a ciência e a filosofia nasceram como poesia, a mais intuitiva das artes. Por isso, todos os homens nascem poetas. Uns mais poetas do que os outros. E como devotos da deusa Poesia, escrevem biografias ocultas com engenho e arte traduzidas em versos. Em Castro Alves, antes da ação direta de revolucionário abolicionista, está a sua poesia compromissada e condoreira de “O Navio Negreiro”. Encontro nos versos de Vanderley muitos caminhos em busca da libertação dos “excluídos”, dos escravos de hoje. Comparando-o com o famoso Wladimir Majakovki, poeta russo, penso que não somente a letra “V” de Vanderley e de Vladimir representa a afinidade de propósitos poéticos. Alguns versos do Vanderley lembram, pela mensagem crua e dura de inconformismo, o russo Majakovkij:- “Olhai: novamente decapitaram as estrelas ensangüentando o céu como um matadouro”. O poeta ribeirãopretano, mais direto, não usa o simbólico da escola modernista russa das primeiras décadas do Século XX, quando em poemas retrata o Brasil atual: “Mais uma favela vai ser construída de despejo, de desemprego, de toda injustiça do mundo”; “Sou / pedaços de tudo que sobrou”; “Quem sou? Um pedaço em dialética, cadarços amarrados, estética!”

“VANDERLEY CAIXE CHEGA

AO SODALÍCIO NA QUALIDADE

DE POETA. SUA BIOGRAFIA

É A DE UM CIDADÃO COMPROMISSADO COM

AS LUTAS SOCIAIS

É costume acadêmico escolher para a imortalidade cultores da arte da palavra, poetas, romancistas, ensaístas críticos, jornalistas e tribunos. Na eleição acadêmica também pesam na balança, como uma homenagem à cidadania, os valores sociais que ornam a biografia dos novos imortais.

Vanderley Caixe chega ao sodalício na qualidade de poeta. Sua biografia é a de um cidadão compromissado com as lutas sociais em diferentes setores, entre os quais a assessoria jurídica no escritório do Dr. Sobral Pinto, no jornalismo, na advocacia dedicada à defesa de presos políticos, na atuação junto à Corte Interamericana e à Comissão dos Direitos Humanos da ONU. É uma presença destacada na OAB e no Rotary Clube local.

Por tudo isso, Vanderley Caixe merece a láurea acadêmica.

Divo Marino é jornalista

http://www.jornalacidade.com.br/geral/ver_news.php?pid=44&nid=46897

Douglas Lara
Enviado por Douglas Lara em 01/12/2006
Código do texto: T307210