Como pimenta
Tem oras na vida da gente em que, os espinhos são tantos e não conseguimos evitá-los, e eles vão se penetrando na carne, vamos sangrando, sangrando e parece que ninguém mais cruza essa estrada, só nós, apenas nós e ninguém mais, até Deus parece ter nos abandonado.
Temos que andar e seguir em frente e juntamente com tudo isso, vem a chuva, o vento, vem o frio, o calor. O mundo parece ter perdido a tonalidade colorida de tudo e as emoções são a flor da pele como pimenta na língua, ardem...queimam...pinicam...
O medo é constante e muitas vezes nos trava, impedindo-nos de reagir. Olhamos no espelho e só conseguimos ver uma imagem de covardia, de desilusão, de abandono. Ficamos petrificados com a inércia de nossa pobreza humana.
Olhando pra tras percebemos que existem curvas, bifurcações diversas e tantos outros caminhando como nós, com o sangue pingando e marcando cada passo dado. E outros e mais outros e mais outros, milhares que se acotovelam gemendo, sofrendo, gritando, pedindo ajuda sem abrir a boca. Sofrimento visto e sentido nos olhos que se esbarram e se reconhecem, por isso são bocas mudas, silenciosas, sem esperanças...
Ao lado de cada caminho existem incontáveis animais irracionais que amontoam espinhos em sacolas e jogam no caminho que trilhamos.
Em seus olhos tem o brilho do prazer, do mesmo prazer que sentimos quando degustamos um alimento saboroso e estamos famintos.
Isso causa tanta raiva, tanto ódio porque cada espinho desse afeta um ente amado além de nós mesmos. Muda a vida de inúmeros seres que poderiam ter uma evolução mais fácil, menos dolorosa. O mais conflitante de tudo isso é entender o que é que faz com que cada animal irracional desses aja assim...
E sabem de uma coisa interessante, continuamos sempre caminhando sempre e os animais continuam ali também sempre, ao longo de toda a nossa existência, mas além da chuva que enxarca nossas roupas, o vento que nos empurra contra os espinhos, fazendo-nos pisar com mais força neles, ferindo mais ainda nossa carne, vemos um ser que estende a mão e retira um espinho e derrepente milhares deles, surgem milhares que vão imitando uns aos outros. E nos olhos deles vê-se luz, uma luz de coragem, de esperança no ser humano.
Uma luz que nos salva dessa fé desgastada, quase nula, dessa luz que esta fraca...Uma luz divina que nos lança bem adiante mostrando-nos que após cada tempestade de espinhos , tem a bonaça de rosas perfumadas e coloridas. Olhando novamente no espelhos vemos imagens nítidas de seres evoluídos, de seres mais esclarecidos quanto a cada espinho e cada lição que cada animal irracional nos deu gratuitamente. Cada animal tipo por nós como animais irracionais são mensageiros. Mensageiros cumprindo ordens. Como saber o gosto de uma maça sem esprimenta-la? Como saber da maciez, da beleza e do perfume da flor sem conhecer o espinho que ela carrega, sem ambos fazem parte da mesma matéria? Como saber enfrentar os perigos da vida sem conseguir discernir o que é o certo e o errado, o bom ou o ruim? Como saber onde devemos chegar se não caminharmos em busca do local a nós destinados? Os mensageiros são os portadores das inúmeras pontes que temos que passar para chegar ao nosso destino. E para chegar ao nosso destino precisamos passar pelos espinhos para evoluirmos. Evoluindo saberemos onde temos que chegar. Os mensageiros são os anjos a nos mostrar que na vida o difícil muitas vezes é para ser a nós mais fácil.