AO RÍTMO DAS FÉRIAS I
« Crónica do Tempo que passa – Parte I »
Por Frassino Machado
Nenhum vector existencial marca tanto o ser humano como aquele que resulta do “tempo de férias” . Mesmo que na sua largueza não seja um tempo de grande extensão ele constitui, na sua substância própria, um tempo especial de grande significado para a sensibilidade de cada pessoa, isto é, para além do tempo comummente de descanso, ele é essencialmente um tempo de criatividade. E porque é “tempo de criatividade”? Porque, na condição de detentora de maior liberdade e autonomia, a nossa mente está mais predisposta à criatividade. Sendo assim, no meu caso específico, posso afirmar que é em tempo de férias que temos, devido à liberdade de agir e pensar, mais capacidade de observação das circunstâncias que nos rodeiam, quer sejam elas factos reais do quotidiano ou, então, meros fenómenos ocasionais. Incluo aqui a constactação de que é em tempo de férias que se conhecem melhor certos eventos e, quiçá, a personalidade de pessoas que connosco se cruzam durante muito tempo e nada reparamos nelas devido, precisamente, ao relativismo não só do espaço, na mente, como no tempo útil de convivência...
Objectivando com a experiência pessoal. As minhas férias têm decorrido desde início do mês de Agosto – mês que carrega com quase todas as férias disponíveis dos portugueses, a começar pelos políticos, pelos administrativos, pelos operacionais da vida activa, em quase todos os sectores económicos, etc. – na zona Centro de Portugal. Entre a fronteira com Castela e a Capital do nosso país. Quer dizer que, apartir do coração sociológico e geográfico do território, encontro-me numa situação priviligiada para poder formular as mais concretas e genuínas apreciações.
O “entre comas” que referi acima constitui, na minha opinião, o calcanhar de Aquiles dos eventos ocorrenciais do Verão português. Não é por mero acaso que cito políticos, administrativos e operacionais, não. Se todos repararmos o País pára, durante praticamente todo o mês de Agosto, numa grande percentagem da sua população activa. E mesmo aquela parte do país que continua laborando fá-lo apenas a cinquenta por cento. Quer dizer, o País, na sua totalidade, ou quase, encontra-se fragilizado e com poucas defesas disponíveis para ocorrer aos problemas, dramas, tragédias e outros fenómenos estivais que assolam tradicionalmente toda a nossa sociedade.
Porque não cuidar da implementação de uma “cultura de férias repartidas e selectivas” distribuidas de uma forma racional e equilibrada entre os diversos sectores da vida colectiva ? Seríamos nós, os portugueses, capazes de abdicarmos das nossas apetências ou interesses privados para assumirmos uma postura humana de cidadania ?
O valor desta Crónica assenta, exactamente, na oportunidade das duas questões aqui por mim expressas. Oportunamente e, tendo em conta a actualidade e pertinácia de certos eventos nacionais, desenvolverei o assunto.
Frassino Machado