O amor e as palavras!

As palavras escritas magoam mais, pois quando falamos o vento pode espalhar a dor transmitida por elas. Mas, ao escrever as tornamos eternas, nos comprometemos ao escrevê-las. Assinalamos os outros como se fossemos uma brasa incandescente num corpo sem marcas. Também dói quando falamos, porém é diferente, o vento, os rumores levam uma parte da mágoa. As palavras faladas deixam o desatino da dor no momento em que as ouvimos, mas o tempo vai amenizando, purificando-as até torná-las lembranças amenas. Já as palavras escritas parecem com as jóias duram para sempre mesmo quando rasgamos, apagamos deletamos, ainda dói a lembrança.

Quando falamos tentamos amenizar o que vamos dizer, afinal não fica bem para um adulto dizer certas coisas: - vai te ferrar, não sinto mais nada por ti, tu ronca demais não dá pra dormir contigo, estou com vontade de variar no sexo,por isso não quero ficar mais contigo. Não. Não diríamos estas frases teríamos uma face na nossa frente cheio de agonia, somos hipócritas. Necessitamos estar longe para dizer estas frases, pois não queremos ver o rosto diluído em dor da outra pessoa. Certamente, escreveríamos essas frases escondidos atrás do anonimato do computador, assim magoaríamos muito alguém, mas sem ver o seu rosto.

Acredito que escolhemos terminar com alguém ou dizer que nos apaixonamos, raramente, falamos. Elegemos o escrito, talvez pela covardia natural do ser humano. Ou por um instituto de preservação da espécie para sofrer menos. Mas, também, ás vezes temos dúvidas ao terminar com alguma pessoa. Queremos viver e ao mesmo tempo conservar o outro num modo de espera para recuperá-las mais tarde. Sei. É impossível temos que decidir, então se escreve para não enxergar a nossa magoa refletida nos olhos da outra pessoa. Há um poema da Cecília Meireles que fala sobre palavras que o vento leva: “Dizer palavra tão louca Bateu-me um vento na boca. E depois no teu ouvido. Levou somente a palavra. Deixou ficar o sentido”. É doce para quem ouve um adeus ouvir a palavra e esquecer o sentido, pois se não entendemos o significado fica mais fazer de conta que não foi nada.

Acho que dizer adeus a alguém que amamos, mas que precisamos nos afastar por diferentes motivos é muito difícil, quase um tormento. Não podemos congelar o tempo para que tudo se decidir. Então, em algum momento precisamos resolver na forma escrita ou falada. Quando escrevemos é mais fácil pra nós, mas a outra pessoa não merece ouvir dos nossos lábios as palavras de finitude? Dar um fim a um relacionamento dói muito não importa se para quem diz ou recebe o adeus. A poeta Cecília Meireles fala sobre os desencontros do amor:” E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...) No dia de alguém ser meu. não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia. o outro desapareceu...”

01/07/2010

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 02/07/2011
Reeditado em 03/07/2011
Código do texto: T3071117
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