Oito ou Oitenta

Oito ou oitenta?

Sempre prestei atenção em relacionamentos dos outros, sem querer entrar e julgar com presunção, mas é engraçado como a gente vê várias coisas estranhas. Por exemplo: eu vejo pessoas extremistas que vivem no zero ou no cem e, em contrapartida, pessoas que patinam na vida sem saber o que querem. A partir daí eu vou tirando algumas conclusões pedantes.

Tem gente que anda um tanto carente: precisam estar rodeado de pessoas ou perto de alguém o tempo inteiro. Arranjam um namorado(a) como desculpa para estar com alguém, para fugir de si, como uma forma de suprir um sentimento ruim com outro sentimento inventado. Observem esses namoros: os namorados sempre vão com a corrente, cheios de clichês românticos, as inseguranças clássicas, as bobagens, brigas e a vontade de construírem símbolos para tentar dar força ao relacionamento. Esse tipo de relacionamento já nasce desnutrido, esquálido, sem uma decisão boa da cabeça. É algo "pra passar o tempo", pra figurar como namorados "porque todo mundo namora e estar só é coisa de louco".

E o que acontece? São chifrados, enganados, levam ferro pelas costas, não há uma ligação sincera e compromissada, não há algo de consistente dentro disso. Por quê? Porque esse namoro foi o namoro de duas pessoas que estão empurrando a vivência com a barriga. Deixando a vida levar, sem tomar as rédeas de vez em quando e pensando é um erro.

As pessoas deveriam ser mais "oito ou oitenta". Como dizia Cecília: ou isto ou aquilo. Ou namora, ou não namora. Ou trabalha, ou não trabalha. Ser ou não ser. Faz o que tem que fazer, com virtude para desempenhar bem, com coração, garra e compromisso aquilo que decorre da sua responsabilidade de escolha! Se escolhemos algo, não é simplesmente por escolher, pra se acomodar no meio da enxurrada do senso comum da multidão. Orgulho-me (como humano se orgulha do seu irmão, da sua humanidade) de alguns poucos relacionamentos maduros que vi, mormente o de uma amiga minha: eles tomaram uma decisão de namorar. Não há ciúme doentio, porque não há medo de ficar só, porque há confiança, há equivalência. Eles não invadem a vida do outro e não ficam o tempo inteiro pregados feito gêmeos siameses, porque eles sabem cultivar a individualidade sem prejuízo do outro. Há entendimento mútuo, não há nada forçado ou feito como obrigação. Não há brigas. No máximo, conflitos, e afinal de contas conflitos são essenciais em todos os relacionamentos, dando tempero e atiçando a força vital das pessoas em busca de um equilíbrio baseado nas adversidades.

Triste ver que a maioria das pessoas não é assim. "Por quê?"Eu fico me cutucando. Seria medo? Medo de trazer para si essa vontade de se jogar de cabeça naquilo que você escolhe, assumindo todas as responsabilidades? Uma decisão, por mais influenciada que seja, é um pouco solitária partindo daquele que decide. E nesse exato momento é que somos donos de nós mesmos, que vamos definir o que somos: através das nossas escolhas. Por isso, seja oito ou oitenta! Se for fazer isto, faça isto completo. Se for fazer aquilo, faça aquilo de forma integral!