Cidadão abandonado
Marcos viu um homem se contorcendo na calçada.
Ele voltava para casa após um dia exaustivo de trabalho.
Tentou falar com o homem que delirava de dor.
Correu até o orelhão mais próximo e pediu socorro.
Acionou os bombeiros, a polícia, a ambulância!
Era tarde já e não passava viva alma pelo local para transportar o indigente cidadão.
Ninguém compareceu para socorrer e ele viu o homem agonizar e morrer em sua frente.
Revoltado viu uma viatura aparecer duas horas depois.
Era a polícia.
Recolheu o corpo do moribundo e levou-o ao pronto socorro da cidade afim de se verificar a causa mortis.
O homem teve um enfarto fulminante.
Mas poderia ter sido salvo se tivesse sido atendido um minuto antes.
Morreu por falta de socorro em tempo hábil!
Marcos se revoltou!
Xingou meio mundo, foi até as emissoras de rádio e mandou todos os poderes públicos aos infernos.
Disse que não poder mais se calar frente ao descaso com que os cidadãos são tratados.
Prometeu ser uma pedra no sapato dessa cambada que não faz nada e são sanguessugas desgraçadas, do povo.
De novo o descaso na minha cidade.
Miséria de humanidade que nos faz reféns de tanta dor sem remédio.
Boa idéia, Marcos, vamos todos ser pedra nos sapatos desses desgraçados.
Rebeldia pouca para enfrentar esses demônios é bobagem. Vamos chacoalhar o coqueiro, gritar pega-ladrão e fazer esses malditos temer a voz da revolução.
Filhos do cão que não brinquem com nossa dor que já está beirando a loucura.
Malditos cães sarnentos, excrementos da ideologia de feira que vendem suas asneiras pelo olho-da-cara do nosso povo sofrido, analfabeto e sem poder de defesa frente essa realeza da miséria!
Basta!
Fora à casta dos bestiais que riem às custas do suor do povo.
Zorros da História vamos rabiscar um profundo J de justiça na barriga desta porca democracia!
Continuem a aviar nossa loucura e verão com quanta mão e voz, se faz essa canção!