TUMOR DE PÁLPEBRA
Sem querer denegrir a classe médica, o fato que passo a narrar, por sinal, verídico, pode até parecer trágico se não fosse inusitado. Um rapaz, portador de um plano de saúde, querendo resolver um problema particular, precisava se ausentar da firma por uma semana e, para isso, teria que conseguir um atestado médico autêntico e convincente que justificasse a sua ausência. Subterfúgio este com indícios maquiavélicos, uma vez que o mesmo pretendia ligar com o seu tão sonhado período de férias naquela empresa, na qual já não demonstrava muito prazer em trabalhar. E pelo visto deu tudo certo para as três partes envolvidas: o paciente forçado, o médico e a firma. Tudo dentro da lei. Pois realmente teve uma pequena cirurgia, ou seja, não houve qualquer tipo de suborno. Só que a dita cuja (cirurgia) não era nada tão urgente assim. O pequeno caroço que o "paciente" alegava que lho importunava eral algo tão imperceptível que, inclusive o médico, por algum momento, titubeou em atender aquele inusitado pedido. Ora, com tantas pessoas fugindo de uma mesa de operação e ali, na sua presença, um rapaz, aparentemente com saúde, exigindo, pedindo, mendigando para entrar na "faca", no bom sentido, diga-se de passagem.
Então, em resumo, foi isso mesmo que aconteceu: fingindo um incômodo numa das pálpebras, um "paciente", após programar a sua agenda, conseguiu um atendimento médico e foi operado de um minúsculo tumor de pálpebra, ganhando cinco dias de licença, aos quais ligou com trinta de férias e mais cinco, por ocasião do carnaval. Resumindo: ficou afastado daquele sórdido local de trabalho durante quarenta dias, tranquilamente. Para isso, como era um assunto estritamente particular, o médico não precisava tomar conhecimente e muito menos, ninguém na empresa, da qual, só sentia aversão.
Como reza o ditado popular: "Deus escreve direito por linhas tortas". Quando este funcionário voltou das longas férias, por coincidência, certa ocasião, flagrpi à sua revelia, uma cena de assédio sexual entre o gerente e uma funcionária. Não demorou, sem que ele pedisse, foi transferido para outra filial, concretizando o seu sonho: outro ambiente e horário de trabalho, proporcionando-lhe até uma rica oportunidade de voltar a estudar, sem precisar ser demitido ou pedir a demissão. E quanto a cena que ele assistiu, do gerente apalpando os seios da funcionária...bem, aí é outra história. Era algo que só interessava aos dois, com muto prazer, literalmente...
João Bosco de Andrade Araújo